![]() |
Ricardo Drubscky cumprimenta Peter Siemsen, presidente do Fluminense, em seu primeiro dia de trabalho no clube (Foto: Nelson Perez/ Divulgação FFC) |
É doloroso demais admitir isso, mas o Fluminense de hoje é
um clube doutrinado para a derrota.
Assina um contrato com um patrocinador em dezembro e
passados 6 meses, não consegue sequer que seu fornecedor de material esportivo
forneça um lote do uniforme branco sem aquele adesivo ridículo que encobre o
logotipo da cooperativa falida. Entramos em campo com um uniforme semelhante ao
de um time amador.
O treineiro ensaia um discurso preparador de espíritos,
dizendo que não vê o Fluminense como protagonista do campeonato. Esse sujeito
de fala pastosa dias atrás visitou nossa sala de troféus e nem assim ficou
imantado pela nossa grandeza. Nasceu e vai morrer com mentalidade pequena, de
derrotado.
Alguns expoentes do clube defendem a venda de mando do
Fluminense tentando nos empurrar uma conversa sebosa de que até mesmo no
Maracanã teríamos grandes chances de perder para o Corinthians. Inacreditável.
A doutrinação para que aceitemos nosso processo de
apequenamento está em curso.
Não por acaso na primeira batida de escanteio nosso time já dava
sinais de ter assimilado a nova “mentalidade”. Cavalieri, outrora um grande
goleiro, catou borboleta de forma muito semelhante ao goleiro do Sampaio Correia,
cujo voo patético para o nada virou hit na internet. A falha quase resultou no
primeiro gol do Atlético-MG. Nosso arqueiro anda realmente treinando? Aos
cuidados de quem? De algum estagiário?
Na cobrança de escanteio seguinte, o misto de paralisia e
pavor, turbinado pela falta de treinamentos bem conduzidos, resultou no gol de
Jemerson.
Em um time de homens, com dignidade nas veias, o gol tomado
teria suscitado uma reação. Mas não neste time do Fluminense. A marcação
frouxa, desinteressada, desde o capitão até os zagueiros, era a regra geral.
Era difícil traçar a linha que demarcava a fronteira entre a preguiça, o pavor,
o desentrosamento, o posicionamento equivocado e a escalação mal concebida.
Eram todos esses ingredientes interagindo ao mesmo tempo, refletindo um
Fluminense sem direção, da presidência à ponta esquerda, que aliás estava
ocupada por Jean, o símbolo-mor do “tanto faz vencer quanto perder”. Wagner e
Giovanni lhe fazem companhia nesta viagem particular pelo reino do
descompromisso.
Desta forma, o
Atlético-MG, mesmo tendo disputado uma partida em alta intensidade na
quarta-feira e vivido a frustração de uma eliminação da Libertadores, mesmo
entrando em campo com um único volante, mesmo tendo atuado com os lentos Thiago
Ribeiro e Lucas Pratto à frente, mostrou muito mais intensidade, movimentação,
variação tática e tesão de ganhar do que o Fluminense. Veio outro gol de bola
parada, essa jogada inovadora à qual a zaga do Fluminense não foi apresentada.
O fim do primeiro tempo se assemelhou a um cirúgico soar do gongo, que impediu
o nocaute. Nosso jogador mais raçudo e efetivo havia sido a trave, que nos
salvou de um vexame maior.
Armado sem uma válvula de escape no ataque, com Jean e
Gerson transformados em meias abertos com a bola e perseguidores de laterais
sem a mesma, e com um Vinicius inoperante, o Fluminense foi presa fácil para o
Atlético-MG. Drubscky tentou consertar a burrada inicial sacando Gerson e
Pierre no intervalo e colocando Wagner e Magno Alves. Aos vinte minutos da etapa complementar foi a vez de
Vinicius dar lugar a Lucas Gomes. A partir daí foi que o Fluminense encontrou
um mínimo de articulação e jogadas de velocidade que chegaram a incomodar em certa medida a defesa do Atlético. Porém, a recomposição defensiva continuava trágica, em
especial pela avenida Wellington Silva, por onde o ataque do Atlético construiu
os dois últimos gols, sendo o último deles derivado de uma cobrança de tiro de
meta, uma coisa patética.
O vareio, o massacre, a humilhação, em muito me lembraram o
7x1 sofrido pelo Brasil na Copa. O Fluminense estava tão vulnerável, tão
atordoado e preso nas cordas quanto a seleção do Felipão. A sensação de torpor
e impotência que me invadiu foi semelhante, com o agravante de que ver o
Fluminense apanhar é muito pior.
Não sejamos nós a Dona Lúcia do dublê de escritor e
treinador perdidão.
Nem de um comando de futebol que contrata um técnico
com perfil de saber lidar com categorias de base e contrata os “garotos” Pierre,
Antônio Carlos e Magno Alves. Treinador e contratações completamente díspares
em conceito, refletindo a falta de critérios da dupla Bittencourt e Simone.
Em 2012, na Copa SP de juniores, um garoto de cabelo
engraçado, destaque do modesto Rondonópolis, interessou ao Fluminense. Quando
procuraram se inteirar da quantia necessária para adquiri-lo, o hoje diretor
executivo de futebol, achou caro e recuou. Valdívia, hoje estrela do
Internacional, deixou de ser do Fluminense por quase módicos 500 mil reais. Duvidam? Então confiram aqui.
Não que dinheiro fosse problema para um clube que tempos
depois teria se compromissado a pagar quase 6 milhões pela piada gorda chamada
Walter. Ou a pagar 300 mil de salários para um zagueiro que mal consegue
concatenar as duas pernas para correr, como o Henrique.
Naquele mesmo ano de 2012, no campeonato brasileiro
profissional, o Fluminense fez jogo duríssimo contra a Ponte Preta no chiqueiro
cruzmaltino, tendo sido surpreendido por um golaço logo no início, perpetrado
por um garoto de cabelo encaracolado, também engraçado. Este mesmo garoto
infernizou a vida da nossa defesa neste domingo em Brasília. Atende pelo nome
de Luan.
Luan, Valdívia....oportunidades que nosso scout (que já se
chamou “banco de dados”) ou menosprezou ou sequer detectou. O que nos induz a
imaginar quantos outros Luans e Valdívias estão escapando neste exato momento
de nossas mãos por um mapeamento mal feito, para que no final das contas nossa
rede furada acabe pescando os Marlones e Lucas Gomes da vida. Até o scout da
Ponte Preta tem se mostrado mais competente que o nosso, porque foi capaz de
enxergar que Biro-Biro é mais útil do que os caras que vieram para suprir nossa
carência de velocidade no ataque. Devem estar rindo da nossa cara ao perceber que
tínhamos debaixo de nossos narizes uma opção bem melhor do que as barangas que trouxemos.
Na falta de qualidade em campo, e fora dele, ao menos se
espera que tenhamos brios. Que domingo, contra o Corinthians vejamos jogadores
que se recusem a jogar como maricas e perdedores. Que demonstrem verdadeiro
ódio pelo fracasso e pelo hábito de apresentar desculpas esfarrapadas. Perder é
do jogo, ser massacrado sem sequer demonstrar o desejo de reagir, não.
Ao presidente Peter, recomendo uma conversa olhos nos olhos,
com os jogadores, sem intermediários. Deixa a fera dos tribunais (que nada
entende de futebol) e o ex-diretor de Xerém do lado de fora. Certos indivíduos
só reconhecem a autoridade máxima. Pergunte o que está realmente acontecendo.
Existem problemas de convivência? O grupo não acredita no trabalho do fraco
treinador? Os atrasos de salário estão atrapalhando? O problema é apenas de
natureza tática e técnica? Faça-os falar, se posicionar, para saber como situar
a conversa e que tipo de cobrança/promessa fazer.
Se é incapaz de assumir essa responsabilidade, declare-se
incapaz de administrar o Fluminense.
Domingo eu vou no Maracanã e não quero ver o Fluminense ser
tratado como mulher de malandro pelo adversário. Desde 2013, temos vivido uma
rotina de vergonhas. Desde o quase-rebaixamento, passando pela asquerosa eliminação
para o América-RN e agora a goleada para o Atlético, uma das maiores exibições
de falta de amor próprio que eu já vi um elenco proporcionar.
Não exijo a vitória. Exijo que os jogadores do Fluminense
sintam vergonha de si mesmos pelo que fizeram neste último domingo e joguem
como se estivessem dispostos a reescrever suas vidas.
É o mínimo que os torcedores do maior clube do mundo
merecem. Para os que tentam nos acostumar com o apequenamento, cujo primeiro sintoma é o conformismo, meu mais
profundo desprezo. Vocês me envergonham. Não foi para isso que Oscar Cox fundou o Fluminense.
.
Nenhum comentário