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Torcida tricolor deu novo show no Maracanã e reestabeleceu o elo com o time (Foto: Bruno Leonardo/ FluLink) |
Para falar deste jogo é preciso falar de Edson.
Antes da bola rolar entre Fluminense e Coritiba, o comovente minuto de silêncio em favor do casal de funcionários do clube Renata Alves e José Luiz de Souza, além de Gabriel, filho de 3 anos do casal, emocionou o time. Em determinado momento, a câmera fechou em Edson e lá estava ele, em oração, rosto avermelhado, e olhos marejados, simbolizando a consternação de todos diante da lamentável tragédia.
Tomo de empréstimo o apelido de Pedreiro, carinhosamente adotado por alguns torcedores, para dar novo batismo à atual equipe. Deve ser chato jogar contra um cara que se enrosca com o adversário a ponto de oferecer a própria cabeça em sacrifício, como fosse ela a bola. Numa dessas, Edson foi pisado por Thiago Galhardo e teve a camisa rasgada. Sua dedicação em campo, capaz de pôr em risco a própria integridade física e a do uniforme, parece contagiar o time, que nas últimas partidas pouco lembrou o apático bando em campo que atuou contra o Atlético-MG. Nesta fatídica partida, inclusive, Edson talvez tenha sido o único a destoar da passividade e desorientação reinantes.
Tenho certo pudor em voltar a adotar a expressão “Time de Guerreiros”, uma vez que ainda preciso me sentir convencido de que o 4x1 sofrido em Brasília foi mero acidente de percurso. Eu vou ficar mesmo com essa nova alcunha, menos emocional, para me proteger de uma futura decepção: “Time de Pedreiros”.
Que a cada dia parece ter em Vinicius o mestre de obras. Ou em Gerson um oscilante arquiteto de belas jogadas. E em Fred o engenheiro. Mas o edifício ainda está nos alicerces. E é na fundação do prédio que alguns equívocos precisam ser consertados, para que a edificação não desabe mais à frente.
Se por um lado identicamos maior solidariedade defensiva, com marcação dobrada em cima dos laterais ou atacantes adversários (Edson/Breno de um lado; Jean/Renato do outro), por outro a defesa tricolor ainda permite a infiltração de atacantes nas suas costas, como vimos em dois lances paralisados pela arbitragem com marcação de impedimento, em que Thiago Galhardo e Hélder entraram na cara do gol.
Já começa a ficar repetitivo bater nesta tecla, mas está nítido que nosso trio de meias é carregador de bola, e não infiltrador. Percebam que quando o Fluminense enfrenta um time postado atrás, a carência evidente não é de um jogador de velocidade, posto que não atuaremos em contra-ataque, mas de um jogador que se habilite a receber o passe vertical, através de deslocamentos por trás da defesa adversária. Ou que abra espaços através de jogadas individuais. Gerson é jogador de passadas largas, de dribles em velocidade, não de dribles em espaço curto, que ajudam a furar retrancas. Wagner é jogador que explora as infiltrações em diagonal, mas sem o suporte de um lateral mais incisivo, fica sem alguém para dialogar. Ontem, muito da nossa dificuldade em produzir oportunidades de gol também veio da atuação tímida dos laterais.
Por falar em laterais, ainda não vi nada em Renato que justifique a barracão de Wellington Silva. Com Renato, nem ganhamos uma sumidade em termos defensivos, e deixamos de ter uma opção importante de ataque. Para um time que se ressente de escape e profundidade, Wellington Silva era uma ótima alternativa. Quanto a Breno é preciso dar um desconto a um jogador que estava há vários meses sem disputar partidas oficiais e demonstra visível falta de ritmo. Mas que chegou com um bom cartão de visitas, ao oferecer um cruzamento precioso para o gol de Marcos Jr.
A entrada de Marcos Jr, por sinal, reflete uma interessante variação de jogo do Fluminense. Enderson tem optado por sacar Vinicius na casa dos 25/30 minutos do 2º tempo e recuar o time. Ao contrário de seus antecessores, o recuo não é propriamente um convite para chamar o adversário pra cima e se limitar a suportar pressão até o apito final. Enderson, a exemplo do que já houvera feito contra o Corinthians, põe um atacante de velocidade ao lado de Fred (Marcos Jr. ontem; Lucas Gomes contra o Corinthians) e Magno Alves mais recuado para ser o elo entre volantes e o ataque. Numa jogada em que Magno Alves insistiu na tabela com Breno e também envolveu Edson, saiu um cruzamento milimétrico para o gol do marrentinho de Xerém, que trouxe alívio definitivo em uma partida que se desenhava tensa e se oferecia a um gol vadio do Coritiba.
Ainda não há motivos para qualquer ufanismo. Um observador mais atento há de perceber que vencemos três habitantes da zona de rebaixamento: Joinville, Coritiba e o Flamengo. E que pegaremos na sequência três times bem mais competitivos: Sport (C), Palmeiras (F) e Ponte Preta (C). Vale ressaltar que Sport e Ponte Preta surpreendentemente, e ao mesmo tempo com méritos, ocupam o G4. Mas o Fluminense já demonstra alternativas táticas e técnicas que dão estofo para um nascente otimismo.
Seremos duramente testados nestes 3 jogos. E que domingo, nossa torcida dê um novo show. Os 28 mil presentes de quinta-feira cantaram, acenderam os flashes de seus celulares, e antes de tudo teceram uma rede invisível de Amor ao Tricolor que o embalou para a vitória. Algo de diferente começa a emergir de fora do campo e contamina quem está dentro. Se o futebol ainda não é dos mais vistosos, ao menos o elo entre time e torcida está reaparecendo. E quando este elo se forma, o Fluminense fica à imagem e semelhança de sua própria grandeza, sem os desculpismo drubsckiano de tirar o peso das próprias costas.
O Fluminense busca vitórias, não desculpas para derrotas.
TIRO LIVRE:
- Vinicius, Fred, Henrique (Coritiba). Todos caindo em campo com cãimbras. As rodadas de meio de semana começam a cobrar seu preço. É um momento do campeonato que testa a qualidade da preparação física dos clubes e que começa a definir blocos de pontuação. Abre o olho, Fluminense.
- Ao que consta, salários estão em dia. Tipo da notícia que tranquiliza e nos dá a garantia que a sabotagem em campo não é mais um risco iminente. Mas que deve ser tratada com a merecida sobriedade. Pagar em dia é obrigação de qualquer gestão e não justifica aplausos ou elogios efusivos.
- Vinicius foi a melhor contratação do pacote de jogadores do início do ano. Tem aos poucos tomado para si o papel de comandante do meio de campo. Forma, ao lado de Edson, a dupla de exceção entre várias escolhas equivocadas do nosso scout. Sabemos que contratar apostas é diferente de contratar promessas, e que é um critério que implica alto risco. Mas a taxa de acerto doravante precisa subir.
- É repugnante a relação que o consórcio do Maracanã propõe ao torcedor. Ou este muda seus hábitos e passa a chegar cedo, ou ele será castigado com um atendimento medíocre e será tratado como gado, definhando em filas imensas, com tempo médio, segundo relatos, de 01:30h para adquirir ingressos. Ainda carece de explicação a opção por só abrir a venda para o setor norte somente depois de esgotar a do setor sul. Se o consórcio passou a ser sócio do Fluminense em todos os setores da arquibancada e não mais concorrente, faz-se urgente que o clube exija uma mudança no tratamento desumano destinado à torcida. Sem inversão de valores. Toda empresa cuida para se adaptar à característica de seus consumidores, em vez de imputar-lhes a culpa. Ponha os direitos da sua torcida á frente dos interesses do consórcio, presidente Peter!
Por Bruno Leonardo
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