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Fred ergue Lucas Gomes na comemoração do segundo gol tricolor (Foto: Nelson Perez/ Divulgação FFC) |
Amigos, o
Fluminense está encantado.
Alguma porção
mágica foi lançada sobre as Laranjeiras, de tal forma que os gols e as vitórias
têm surgido de uma forma improvável. Em
um jogo, o gol sai de cruzamento de Breno Lopes para cabeçada de Marcos Júnior.
Em outro, o gol surge de lançamento de Gustavo Scarpa para peixinho de
Lucas Gomes. Sem contar a virada sensacional sobre o Goiás, com um homem a
menos, quando nos refazíamos do alívio por um pênalti defendido heroicamente
por Cavalieri.
E como
porções mágicas costumam desfazer maldições, ontem desfizemos mais uma. Soube de
gente que temia seriamente ir ao Maracanã por causa da data. O dia 2 de julho
marcou uma das maiores tristezas da história tricolor, o nosso Sarriá em 3
cores: a derrota nos pênaltis na final da Libertadores. Parafraseando o título do famoso
livro de Zuenir Ventura, 2008 foi o ano que (ainda) não terminou.
Porém, há
mais coisas entre o céu e Álvaro Chaves do que supõe nossa vã cornetagem. A
camisa tricolor enxuga lágrimas, resgata sorrisos e faz jogadores
desacreditados passarem a acreditar em si mesmos. Mais do que tudo, dá uma rasteira em quem se apressa a apontar o Tricolor como carta fora do baralho. A vitória sobre o Santos, se não exorciza em definitivo a referida data, pelo menos afasta temores desnecessários em relação a ela.
E pôs o Fluzão no G4, com a terceira vitória consecutiva. Novamente não
fizemos uma exibição de encher os olhos, do ponto de vista técnico. Com um
elenco carente em certas posições e desfalcado de Vinicius, o Fluminense, que
já era uma equipe com DNA operário, haveria de conquistar mais uma vitória com
predomínio do suor sobre o talento.
E assim o
fez.
A ausência de
Vinicius impôs desafios a Enderson. Sem um típico comandante de meio de campo
na faixa central, esta região do campo ficou ora povoada por Marcos Júnior, ora
ocupada por Jean, vindo de trás. O Fluminense, por conta disso, passou a
concentrar suas jogadas pelas laterais do campo, preferencialmente pelo lado
esquerdo, uma vez que o trio Giovanni-Wagner-Marcos Júnior demonstrava melhor
movimentação e entendimento que a dupla Wellington Silva-Jean-Gerson. Por
vários momentos a falta de afinco da promessa tricolor na marcação causou
apuros para nosso lateral direito, sobretudo com as investidas do talentoso
Gabigol pelo setor no 1º tempo. No 2º tempo, o Santos inverteu a posição dos
seus atacantes de lado, e quem foi incomodar por ali foi o veloz Geuvânio.
Por falar em
Gerson, é redundante falar do talento do jovem jogador. Se não existisse, não
estaria ele sendo cobiçado por dois gigantes europeus como Barcelona e
Juventus. Se fosse obra de ficção, aquela puxeta genial de pé esquerdo que pôs
a bola na cabeça de Fred não teria acontecido. Mas em um grupo em que
praticamente todos os jogadores atuam no limite, em que parece proibido sobrecarregar
os companheiros com a própria omissão, a atitude de Gerson em campo destoa. A
oscilação de desempenho é algo para o qual, creio, a maioria dos tricolores
está preparada. Mas a omissão é de difícil aceitação. Talvez por conta disso, a
joia tricolor tenha sido vaiada no momento da substituição, em meio a algumas
manifestações de apoio. Reparem que eu falo em omissão e não preguiça. Não
estou bem certo que o problema de Gerson seja falta de garra. É bem provável
que, do alto de sua meninice, ele se sinta desconfortável com toda a
expectativa que se criou sobre o seu futebol. É comum vê-lo se posicionando
longe de onde o jogo está ocorrendo, como se não quisesse ser notado.
As vaias dirigidas a Gerson teriam sido evitadas se ele não tivesse que ser tão precocemente a solução. O jogador não pode servir de escudo a dirigentes que planejam mal, ávidos em colocá-lo na vitrine antes da hora, para contar com o dinheiro de uma venda que resolverá alguns problemas a curto prazo. Como se não bastasse, há um pai que tira o foco do menino do campo e o desvia para terras distantes.
A questão se agrava porque o padrão de exigência da nossa torcida, no que tange à guerreiragem, subitamente se elevou. A garra
insuperável de Edson parece estar contagiando Jean, que voltou a ser o volante aguerrido
de outras jornadas e ao mesmo tempo o cara que qualifica a saída de bola do
Fluminense. Wagner também parece ter compreendido o momento e foi visto
aplicando dois carrinhos seguidos na bola para evitar um avanço do time
santista pelo lado esquerdo da nossa defesa.
O Fluminense
não tem construído vitórias com volume de jogo, posse de bola (embora tenha
fechado este jogo com 53%) e chances de gol criadas. O Fluminense tem obtido
suas vitórias a partir de uma premissa: ser antes de tudo, um time muito
difícil de bater. Começa pela eficiência da dupla de volantes, que tem reduzido
o nível de exposição da zaga, se estende ao espírito guerreiro, que contagiou
todo o grupo, e se complementa com algum capital técnico em jogadores como
Cavalieri, Edson, Jean, Wagner, Vinicius, Fred.
Com a moldura
pronta, com o cavalete bem firmado, com a luz bem ajustada, fica mais fácil
para a garotada de Xerém pintar o quadro e ganhar confiança. O crescimento de
Marlon, as boas participações de Marcos Júnior, e mais recentemente de Gustavo
Scarpa, muito se deve a isso.
Aliás, não só
a meninada de Xerém como também aqueles jogadores que vinham sendo pouco
utilizados e que agora se veem com a incumbência de dar resposta em campo, como
Lucas Gomes e Henrique. O que antes era um elenco desarticulado está se
transformando em um grupo. Neste aspecto, ponto para Enderson! Todos parecem
estar mobilizados sob sua batuta.
A ausência de Vinicius, que se estenderá no mínimo por mais 45 dias,
será uma lacuna difícil de preencher, caso não seja anunciado nenhum reforço para a posição. O jogo contra o São Paulo, que buscará reabilitação no Morumbi, será outro duro teste. Em outras
épocas, eu estaria aflito com a escassez de opções de criação e encararia empate como vitória.
Mas como disse anteriormente, este Fluminense parece estar sob encantamento. Permitam-me
o exagero: pode escalar o roupeiro, que ele dará conta do recado.
Quem está
faltando se encantar é a torcida do Fluminense. O público registrado ontem, com
total de 13 mil pagantes, foi decepcionante. Não há coletividade humana mais
embebida de poesia e força do que a nossa quando resolve abraçar o time. Mas há
uma demora enorme em entender que ela também disputa o campeonato e precisa ser
um fator de desequilíbrio a favor do Tricolor. Não existe reta final no
campeonato brasileiro, à qual ela possa aderir de última hora. Existem 38
finais. É nesse espírito que nosso time tem jogado, a ponto de inverter a
balança e deixar a torcida em débito com a equipe.
É hora de, simbolicamente,
atear fogo ao sofá. De jogar o controle remoto pela janela. Tomaremos posse
desse campeonato, se assim decidirmos. O Time de Guerreiros está de volta. Mas
e a torcida de guerreiros? Aquela que, no meio de semana, não encontrava obstáculos para lotar o
Maracanã para ver os jogos de Libertadores? Ainda que pesemos todos os erros do
marketing, da precificação dos ingressos, do mau atendimento prestado pelo consórcio
Maracanã, está difícil apontar com segurança as causas do baixo comparecimento.
Com o ingresso médio mais caro do Brasil, a torcida do Palmeiras, cujo time
está abaixo do nosso na tabela, não tem colocado menos do que 26/27 mil
pagantes a cada jogo. O dobro do que vimos ontem.
Vamos jogar
junto, torcida tricolor!
TIRO LIVRE:
- A
contratação de Wellington Paulista já causa estranhamento. A aquisição do
jogador, mais estranhamento ainda. Justamente em um momento que até as pedras
gritam que nossa maior carência é de meias armadores. Ainda que Gustavo Scarpa,
Higor e Bryan Oliveira estejam aguardando ansiosamente sua chance, é arriscado
colocar tanta responsabilidade em seus ombros. Aprendamos com Gerson.
- Já tem
comentarista dizendo que bom, apesar de tudo, ruim com Fred na seleção, pior
sem ele. Que o nosso camisa 9 continue no seu barquinho, higienizando a mente
com sua pescaria. A torcida (e a mídia) que fez questão de apontá-lo como
culpado-mor pelo 7x1 não merece agora o seu socorro. Se virem com Firmino.
- Temos pela
frente São Paulo (F), Cruzeiro (C) e Vasco. O primeiro enfrenta 4 meses de
salários atrasados, um ambiente em que os jogadores se alfinetando mutuamente e
desmanche de elenco. O segundo vem de 3 derrotas seguidas sob o comando de um
Pofexô decadente. E o terceiro é um teimoso habitante da zona de rebaixamento. É
momento do Flu ter ambição e buscar os 9 pontos. Se conseguir, perderei o pudor
de falar em penta. Algum louco precisa defender esta causa abertamente!
- Deputado Pimentinha:
responda primeiramente aos processos de que é réu. Não são poucos. Não é o
Fluminense que dá pedalada nas regras. É o senhor.
Por Bruno Leonardo
Por Bruno Leonardo
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