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Enderson Moreira observa o jogo à beira do campo (Foto: Nelson Perez/ Flickr Oficial do Fluminense) |
Há momentos que revelam o caráter de um treinador.
O Fluminense fazia um bom jogo contra o Coritiba, exercendo
domínio e criando mais chances de gol, quando aos 30 minutos do 2º do tempo,
Enderson Moreira começou a desarticular a
equipe. O jogo estava em aberto, empatado em 1x1, mas não seria exagero afirmar
que uma vitória tricolor estava se desenhando.
Um pouco antes, aos 28, uma alteração não programada: Marcos
Júnior precisou sair, com dores musculares, e em seu lugar entrou Vinicius,
ainda fora da melhor forma física. Logo em seguida nosso treinador sacou Gerson, que vinha fazendo
partida surpreendentemente boa, para colocar o velocista Osvaldo. Aos 36, tirou
Scarpa e pôs Edson.
O Fluminense, de um 4-2-3-1 que vinha dando certo na
partida, voltou à mesma configuração muito malsucedida do Fla-Flu: um 4-3-1-2
com 3 volantes, um articular lento à frente deles (Vinicius, enquanto no
Fla-Flu havia sido Cícero) , Osvaldo
aberto na esquerda e um centroavante trombador (Michael, enquanto no Fla-Flu havia sido WP).
A alteração tinha propósito claro: chamar o Coritiba para o
próprio campo, recuar e contra-atacar na bola longa para Osvaldo. Em outras
palavras: garantir o empate, e por conseguinte, o emprego. No final do jogo,
Enderson pedia a Victor Oliveira para fazer cera, fingindo estar com cãimbras, num flagrante de mediocridade.
Eís aí o mal de manter no cargo um treinador pressionado. Fosse
um treinador recém-chegado, vendo o Fluminense dominar a partida, teria
insistido com Scarpa e Gerson, e partido com tudo em busca dos 3 pontos. A
postura ofensiva do Fluminense, inclusive, era sua melhor defesa, porque
sufocava o Coritiba em seu próprio campo e não o permitia tomar as rédeas da
partida.
O medo de ser demitido fez Enderson confundir time ofensivo
com time muito aberto e seguir a receita clássica: colocar mais um volante, se entrincheirar
atrás e evitar a derrota que poderia colocá-lo na rua. Mas foi justamente aí
que o Fluminense viu a derrota de perto, ressuscitando um Coritiba que não se
achava em campo e passando a tomar um sufoco desnecessário. Foi por pouco.
Enderson pôs a grandeza do Fluminense abaixo do seu objetivo
de permanecer no emprego. Abdicou de uma vitória que poderia nos colocar a dois
pontos do G4. Deve ter, em vez disso, olhado para baixo e imaginado que um empate
nos manteria mais longe do Z4. Um cara como esse apequena um clube. Enxerga
riscos onde existem oportunidades. Que ele queira apequenar o Fluminense é uma
coisa. Outra bem pior é ter uma cúpula de futebol que compactue com isso.
Covardias à parte, o Fluminense apresentou em alguns momentos a
receita que o havia projetado para a vice-liderança do campeonato: marcação
agressiva e solidária, formação rejuvenescida com Scarpa, Marcos Júnior e
Gerson e time compactado, com todos dando opção de passe. Douglas, que já havia
estreado bem contra o Flamengo, mostrou evolução e fez partida de gente grande.
Ganhamos um jogador.
O saldo positivo deste empate foi que, a princípio, parecemos
ter reencontrado um time. Enderson só precisa abandonar a ideia de continuar
escalando Victor Oliveira (um mero rebatedor de bolas) e efetivar Léo Pelé na
lateral esquerda. Precisa também orar para que a recuperação de Fred se dê o
quanto antes. No meio é manter a formação com Douglas, Jean, Scarpa, Marcos
Júnior e Gerson, e quanto a este último, um trabalho motivacional para que não
perca o foco.
E o leitor há de me perguntar: E Edson? E a dupla de zaga?
São coisas que se complementam.
Parece ter ficado claro que a época de Gum passou. Ontem foi
dominar errado um passe, se viu marcado por dois adversários, se enrolou todo e
preferiu chutar pra fora. Na sequência do lance, abdicou de acompanhar a cobrança
de lateral para reclamar de uma falta inexistente sobre ele. Quando se deu conta, Thiago
Galhardo avançava sozinho nas suas costas para cruzar para o meio da área e
servir Henrique Almeida, que fez o gol. Um papelão que jogou um balde de água
fria na equipe, que vinha jogando melhor.
Uma solução terá que ser encontrada para a zaga. Não tem mais como contar com Gum, Henrique,
Antônio Carlos. Assim como ocorreu ontem, a presença de um desses caras em campo pode
comprometer partidas em que impomos superioridade ao adversário. Basta uma única
refugada. Que se promova a subida de Ygor Nogueira ou que Enderson tenha a
coragem de testar uma dupla com Edson e Marlon, quando este retornar da
seleçào. Seria uma maneira de reunir dois jogadores jovens, velozes e técnicos na
defesa, ao mesmo tempo em que não brecamos a evolução de Douglas.
E quanto a Gum fica nossa eterna gratidão pelos títulos que
ajudou a conquistar, pelo profissionalismo e respeito à camisa do Fluminense.
Gratidão que não pode mais ser confundida com titularidade, a qual não
reúne mais condições de ostentar.
Matematicamente, o G4 ainda é uma perfeita possibilidade. Mas
nossa realidade é de acharmos novamente um time sob o comando de um treinador fraco, e toda
a sorte de oscilações que isso implica. Sem sabermos exatamente o que faremos
com Ronaldinho e Cícero, num time em que a juventude pede passagem. Sem saber quando, em que condições e por quantos jogos poderemos contar com Fred. Uma
estrada que pode dar em G4, em marasmo ou contas desesperadas. Domingo, contra o Sport,
outro time que estacionou no campeonato, teremos mais indicativos do que nos
aguarda.
TIRO LIVRE:
- Belo gol de Marcos Júnior, com frieza para deixar o
zagueirão sentado no chão e chutar no canto esquerdo do goleiro. Redimiu-se de
um gol perdido inacreditável, desperdiçado minutos antes. Esta temporada parece
estar assinalando seu amadurecimento como jogador. Erra e não baixa a cabeça.
Parece ter entendido que competir também é persistir.
- Fred à beira do campo, orientando e gesticulando com os
jogadores, parecia um segundo técnico em campo. Sua liderança pode ser um fator
anímico importante para a equipe nesta tentativa de reação. Talvez seja o fator
que tenha faltado em 2013, quando se lesionou ainda no primeiro turno e ficou
ausente até o fim do campeonato.
- Ainda não me desce pela garganta o rebaixamento de
expectativas. De título, passamos a falar em G4, e de G4 já estamos falando em
obter logo umas 4 ou 5 vitórias para evitarmos um mal maior. São 7 pontos conquistados nos
últimos 33 disputados, campanha de rebaixado. Ainda bem que a evolução vista
ontem nos deu um alento. Até o Fla-Flu estávamos jogando o pior futebol do
campeonato, ao lado do Vasco.
Perfeito.
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