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Fred disputa a bola pelo alto com Erazo no empate sem gols contra o Grêmio (Foto: Celso Pupo/ Fim de Jogo) |
Nos últimos
dias falou-se pouco de futebol.
Matérias
dando conta de um suposto contato do Fluminense (ou do Pedro Antônio, à revelia
do clube) com Muricy galvanizaram as redes sociais. Um intenso debate sobre
boas práticas jornalísticas (ou a falta delas) e um tribunal para queimar
culpados e hereges foram rapidamente instalados.
Dias depois,
uma matéria de O Globo dava conta de um possível esvaziamento de poder de Mário
Bittencourt, que teria sido causado pela decisão de Peter Siemsen em acumular a
presidência e o comando do futebol. Entre outras coisas, relatos de vaidade
excessiva do VP de futebol (cujo apelido nos bastidores é “pavão”) e um
tratamento arrongante dispensado a certos jogadores.
Novamente,
muita discussão nas redes sociais sobre a veracidade dessas informações e pouca
mobilização para a partida contra o Grêmio. O resultado é que não colocamos nem
10 mil pessoas ontem no Maracanã.
Poucas horas
após a publicação da matéria, uma ação ensaiada lançou nas redes sociais a
patética hashtag #FechadoComOMário. Talvez a única jogada bem ensaiada que
testemunhamos no Fluminense nos últimos meses. Algumas postagens chegaram a
acontecer instantes antes do treino ou simultaneamente ao mesmo, o que
evidenciou um trabalho frenético das assessorias, posto que é impossível
treinar e navegar nas redes sociais ao mesmo tempo.
Uma babação
de ovo ao chefe em níveis jamais vistos. E que demonstrou um Fluminense
muito preocupado com sua imagem na mídia, em um momento em que todas as
energias deveriam estar voltadas para dentro. Afinal de contas, é dentro das 4
linhas e não nas redações que o futebol ainda é jogado. Se no jogo midiático a
resposta do clube vem a jato por notas oficiais ou hashtags, em campo precisamos
acumular 11 derrotas em 13 no campeonato brasileiro para começar a agir.
Mas a chegada
de Eduardo Baptista começa a deixar suas primeiras impressões digitais. É
possível dizer que não ter tomado gol contra a boa equipe do Grêmio é um
avanço. A rigor, somamos 3 tempos inteiros sem termos nossas redes balançadas
(no 2º tempo contra a Ponte também não levamos gol). O próprio Eduardo
salientou na coletiva pós-jogo que pretende começar o time pela defesa, partindo
da premissa que o primeiro passo para a construção de uma vitória é não tomar
gols.
Ao contrário
de outras jornadas, em que tínhamos um volante fixo e outro saindo muito para o
jogo, Eduardo Batista fixou Pierre e Cícero próximos a zaga e não liberou
demasiadamente os laterais. Com a entrada de Edson no lugar de Wellington Silva
no 2º tempo, trancamos de vez o lado direito, uma vez que Edson atuou plantado
na lateral. Boa parte da nossa consistência defensiva esteve apoiada nisso:
dois volantes fixos protegendo melhor a zaga e negação de espaços nas laterais.
Também
contribuiu para a segurança de nossa defesa o fato do escrete gremista ter
entrado em campo com o regulamento debaixo do braço, disposto apenas a evitar a
derrota e deixar para decidir a fatura em sua arena. O elenco gremista é ainda
mais curto em opções do que o tricolor e foi a campo com sua força máxima, uma
vez que não dispõe de condições para mesclar o time e manter a competitividade.
O desgaste era evidente na pouca movimentação de Douglas e na pouca inspiração
de Giuliano, um pouco mais efetivo na criação que seu companheiro de meio. A baixa produção do meio gremista isolou Luan e não teve em Bobô um desafogo útil. A rigor, o Grêmio só teve esse desafogo quando Roger Machado lançou Fernandinho no 2º tempo para impor velocidade sobre um Edson improvisado e que não teve o suporte de Osvaldo, ficando num perigoso 2-1 em certos momentos.
O Fluminense
achou uma forma de jogar do meio para trás, mas continua quase nulo do meio
para a frente. Atrás de Fred uma linha de 3 meias com Scarpa e Gerson abertos e
Marcos Júnior pelo centro, fazendo a liga entre volantes e meias, se
aproximando dos laterais e meias abertos para tabelas e recompondo a marcação.
Dessa forma fica difícil expressar o arranjo numérico disso, se é um 4-2-3-1 ou
um 4-4-1-1, posto que a liberdade de Marcos Júnior para flutuar desfaz qualquer
desenho estático.
O fato é que
não funciona, porque nem Scarpa e nem Gerson possuem verticalidade. Carecem de
arranque e drible para passarem pela marcação e carregarem a bola até de Fred.
O que poderia ser sanado se Fred saísse mais da área para projetar ambos à
linha de fundo ou para entrada da área. O Fluminense ainda é uma equipe que joga
um conceito antigo de futebol, que se resume carregar a bola até Fred. A partir
daí chegamos a um diagnóstico equivocado: não é Fred que fica isolado. É ele
que se isola com sua pouca movimentação. Um problema que não se apresentava até
o surgimento da pubalgia que o tirou de algumas partidas. Até a lesão tínhamos
um Fred participativo e que recuava até a intermediária para acionar os
laterais ou meias chegando de trás. Hoje o Fred estático obriga o time a
buscá-lo em bolas altas alçadas aleatoriamente.
Apesar de
tudo, o Fluminense que se apresentou ontem fez lembrar por instantes aquele do
1º turno, que se equilibrava na corda bamba do 0x0 ou do 1x1 e achava o gol da
vitória sem impor volume de jogo, muitas das vezes inferior na posse de bola. É
o melhor que Baptista conseguirá com esse grupo: um time que esgrima mais do
que joga futebol e obtém vitórias na unha. Sobretudo enquanto carecer de
laterais mais efetivos e de um maestro de meio de campo. Que deveria ser
Ronaldinho, o ausente. Que jamais será Marcos Júnior, a pulguinha esforçada. Que
teve em Vinicius algo muito próximo disso, até fraturar o pé esquerdo.
Valeu pela
evolução defensiva e pelo empate que mantém no ar alguma autoconfiança para o
jogo contra o Goiás no sábado, válido pelo Brasileirão, e que começará a determinar
nosso destino na competição. Pela fragilidade técnica do adversário, por ser em
casa e pela proximidade na tabela (o Goiás está 3 pontos atrás), este jogo é
chave para afastar qualquer desfecho macabro no campeonato.
Esse
Fluminense ruim de bola mas lutador evitará o pior. O Fluminense indolente que
se colocou a 3 pontos da zona de rebaixamento, não. Seja lá qual foi o
expediente utilizado para fazer este grupo voltar a jogar com hombridade, funcionou. Que mantenham a fórmula.
Nem que o
cachimbo da paz seja um hashtag baba-ovo. Ou uma chamada nos ovos. Sabemos que
não é assim que se faz futebol profissional e não funciona no longo prazo. Mas no
curto prazo funciona e tudo na vida do Fluminense agora é curto prazo. Vamos
viver de migalhas e conquistas gradativas. Comemorar um jogo sem gol sofrido.
Comemorar que Gerson correu mais do que botou a mão nas cadeiras. Que Cícero
deu carrinho e não morcegou. Depois a primeira vitória em muito tempo. E por
fim a permanência na Série A e, quem sabe, um improvável título na Copa do
Brasil.
Quando
chegarmos neste momento, teremos espaço para discutir o Fluminense
estruturalmente, o Fluminense do longo prazo. Lá se foram quase 2 mandatos (5
de 6 anos) do presidente Peter. Acho improvável que em 2016, último ano à
frente da presidência, seja dado um cavalo de pau na condução do futebol
profissional. O Fluminense abraçará a ilusão de que precisaremos fazer apenas
alguns ajustes pontuais e vai empurrar a árdua tarefa de mudar as coisas para a
próxima gestão.
Feliz 2017 a
todos.
Por Bruno Leonardo
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