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Jogadores comemoram ajoelhados o gol de Fred, que abriu o placar na Arena (Imagem: Nelson Perez/ Divulgação FFC) |
Antes de
publicar este texto, eu me pus a refletir sobre meu papel como cronista.
Considerei
arriscada a ideia de compartilhar com vocês algumas divagações, temendo me alongar demasiadamente, ou soar amargo, ou ainda pior, me
levar a sério demais.
Fato é que uma classificação heroica como a que obtivemos na Arena do Grêmio gera uma
pressão para que o colunista endosse o Fluminense majestoso e irrepreensível
que muitos viram. Seria mais conveniente para mim escrever sob encomenda
para os torcedores mais eufóricos, mas receio embicar no caminho da demagogia
desta forma.
Essa coluna é
antes de tudo um exercício de liberdade e não se presta a atender expectativas,
a não ser a de escrever com honestidade d´alma. Opção arriscada e que nem sempre
resultará em popularidade.
Quem
acompanha esta coluna há algum tempo sabe que já fui um escriba mais entusiasmado.
Falava de um Fluminense imbatível, candidato ao penta, que se recusava a perder
qualquer que fosse sua formação em campo. Um Fluminense que ganharia até com
gol do roupeiro, se necessário fosse.
Aproveitando o
momento mea culpa, admito que fiz força até para acreditar no sucesso da
contratação de Ronaldinho. Tentei enxergar, talvez empolgado com a fugaz vice-liderança,
a oportunidade perfeita para que o craque dentuço provasse aos seus detratores
que não estava morto e que ainda poderia reeditar suas melhores páginas no
futebol. Errei.
Não vou me
alongar especulando sobre os efeitos que a passagem de R10 pelo Fluminense possa ter causado no
ambiente e no futebol tricolor, mas é fato que sua chegada coincide com a queda
vertiginosa de produção da equipe. Enderson Moreira por sua vez perdeu o
vestiário e emplacou uma sequência de 11 derrotas em 13 jogos, mas está longe
de deter alguma exclusividade nesse aspecto.
Em 2013,
Luxemburgo chegou, acumulou 8 jogos de invencibilidade e foi ladeira abaixo,
até seguir reto na direção do rebaixamento. Em 2014, Cristóvão encantou nas 10
primeiras rodadas do brasileirão e depois o time não parou de oscilar, chegando
ao cúmulo de ser eliminado pelo América-RN na Copa do Brasil.
Nos últimos anos,
portanto, tem sido assim: tudo parece correr bem até que fatores tanto de campo
quanto extracampo se consorciam de maneira a fazer
tudo desandar. E a equipe passa a dar sinais claros de que corre para não
chegar. Com a corda no pescoço, costura-se um acordo de paz, atende-se a
exigências, financeiras ou de outra natureza, e o “time de guerreiros” retorna.
Mas pode merecer a alcunha de guerreiro quem escolhe o momento para sê-lo? Ou
se é guerreiro o tempo todo, ou se é outra coisa. Até que se prove o contrário,
ao menos para mim, este elenco é outra coisa.
Dessa vez foi preciso derrubar Enderson, excluir
Ronaldinho Gaúcho do convívio, para que a paz voltasse a reinar. Fico com os
dois pés atrás em relação a esse espírito guerreiro que só se manifesta com
exigências bem atendidas. Mas que não sentiu pena do torcedor tricolor quando
lhe impôs uma sequência de derrotas acachapante a ponto de se aproximar perigosamente da zona de rebaixamento.
Que o leitor
desculpe o tom crítico, mas são muitos episódios que recomendam cautela e
vacina. Prefiro exaltar o feito do Fluminense, mas é claro que falarei de
atuações individuais, sem o que fica difícil explicar a classificação.
Com todas essas premissas colocadas, digo que vi um Fluminense muito combativo, mas com muita coisa a se melhorar. Um Fluminense que dá garantias de evolução, mas não de título.
Com todas essas premissas colocadas, digo que vi um Fluminense muito combativo, mas com muita coisa a se melhorar. Um Fluminense que dá garantias de evolução, mas não de título.
Houve luta na
Arena. Mas nem tudo se resume à volta da garra e do comprometimento. Eduardo
Baptista tem grande parte do mérito. Ontem, enquanto teve pernas, seu time
pressionou a saída de bola adversária, e quando não pressionava, recuava
formando duas linhas de 4 muito próximas, dificultando qualquer infiltração dos
meias gremistas entre elas. O Grêmio, portanto, atacava preferencialmente pelos
lados, onde encontrava Léo Pelé e Jean muito bem postados e ajudados por
Gustavo Scarpa e Marcos Júnior na marcação. Com os espaços por dentro
interditados, e as laterais bem protegidas, o Grêmio passou a abusar das bolas
altas (foram 41 cruzamentos ao todo) e foi consagrando a dupla de zaga
tricolor, especialmente Gum, o renascido.
Mas
basicamente o Fluminense de Eduardo Baptista retornou ao contexto construído
por Enderson até a chegada ao G4: solidariedade na marcação, compactação
defensiva, dificuldade na retenção da bola e aposta no contra-ataque, mesmo
tendo dificuldade para executá-lo. Estamos nos firmando com um time de baixa
produção ofensiva, que quase sempre termina os jogos com menos posse de bola e
menos finalizações que o adversário. Terminamos com 41% de posse de bola, e 8
finalizações, contra 59% e 19 finalizações gremistas. Um Flu pouco vazado, que permite
assim que os poucos gols pró rendam vitórias, ou pelo menos, empates santos
como o de ontem.
A opção por
centralizar Gerson e posicionar Scarpa e Marcos Júnior pelas pontas melhorou o
escape tricolor para o contra-ataque, mas não resolveu nosso problema na faixa
central do campo. Gerson continua com dificuldade de dar sequência à maioria
das jogadas e mantém o cacoete de se jogar nas divididas. Mas sua escalação
parece se justificar pela expectativa de a qualquer momento ele consiga tirar
da cartola uma jogada de lampejo.
E dessa vez
não foi diferente. Gerson iniciou a jogada do gol tricolor, se antecipando a um
passe que visava o lento Edinho (isso não nos pertence mais) e partindo numa arrancada
fulminante até a linha de fundo. A partir daí um cruzamento rasteiro, uma
sequência de 3 rebotes até a bola sobrar na direita para Marcos Júnior. O
Resolve cruza com precisão na cabeça de Fred, que completa, em lance de
centroavância explícita, para o fundo das redes. Detalhe para a movimentação do
capitão tricolor no lance: enquanto a bola sobrevoa a área, Fred ameaça correr
para o 1º pau, desloca Erazo, que o acompanha, dá um leve passo para trás e cabeceia nas costas
do zagueiro. Tem coisas que nenhum falso 9 faz. Só um verdadeiro.
Fomos para o
intervalo sentindo o cheirinho da vaga para as semifinais.
Na volta do
intervalo, o Grêmio, como era de se esperar, voltou com agressividade redobrada
e cedeu espaços demais atrás, sobretudo pelo lado direito da sua defesa. O
Fluminense teve oportunidade de liquidar a fatura nos 15 minutos iniciais da
etapa final. Até que Baptista sacou Marcos Júnior, pôs Osvaldo e o escape pela
direita deixou de funcionar. A partir daí, a má preparação física do Fluminense
começou novamente a dar as cartas. Enquanto o escrete gremista não diminuía o
ritmo, nosso time se desmanchava. Jean saiu sentindo câimbras e Higor teve que
entrar numa tremenda fogueira, logo após o gol de empate dos gaúchos. Tive frio
na espinha vendo nosso jovem meia improvisado e tendo que dar contas das
investidas de Fernandinho.
O Fluminense
flertou com o perigo e se safou. Não o teria feito se não fossem as atuações de
duas figuras muito criticadas (e com justiça) nos últimos tempos: Cavalieri e
Gum. O primeiro relembrou as jornadas mais inspiradas de 2012, com 3 defesas de
alto grau de dificuldade. Inexpugnável. O segundo renasceu das catacumbas. Gum tem todas as
limitações técnicas que possamos imaginar, mas o excluo de qualquer conluio. Gum não carrega consigo qualquer vocação para a desonra de entregar jogos. Sempre
me incomodou ver parte da torcida tratando-o como um leproso.
Por fim,
neste texto que já vai extenso, permitam-me falar especialmente de Léo Pelé.
Léo fraturou
o pé ainda no primeiro tempo contra o Grêmio e jogou todo a etapa complementar
no sacrifício. Ao fim do jogo dizia a todos que jogaria contra o Santos de
qualquer maneira, ainda negando-se a acreditar na realidade.
Léo, que Deus,
não o Deus apequenado de alguns companheiros teus de time, que só abençoa
alguns eleitos, mas o Deus-amor generoso que a todos provê, conserve em ti essa
gana e essa fome de jogar futebol, que nem uma fratura demove do desejo de
jogar. Logo você, Léo, que entrou numa fogueira gigante e deu conta do recado.
Menino-homem, na melhor acepção da palavra.
Tiro livre:
- Aprendeu,
Diogo Olivier? Jamais representará uma catástrofe o Grêmio ser eliminado por um
time que tem uma camisa pesada como o Fluminense. Lembram quando eu disse lá em
cima que me recuso a escrever sobre encomenda? Pois vocês fazem o jornalismo
regionalista que escreve o que seus leitores querem ler. Sabe onde isso
desemboca? Na desinformação. Pintaram um Fluminense pequeno que jamais existiu.
O jornalismo populista para vender jornais, caçar cliques. Isso sim é
catastrófico.
- Na euforia
da classificação, você aparece em vídeo, não é Pequeno Príncipe?
- O Fluminense é maior que qualquer vestiário.
Por Bruno Leonardo
Parabéns meu amigo! VC consegue se superar a cada crônica!
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