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Jogadores se amontoam sobre Marcos Júnior para comemorar seu golaço contra o SPFC (Foto: Nelson Perez/ FFC) |
Dez
dias sem Fluminense, entremeados por dois jogos insossos da seleção da
Nike/CBF, e o torcedor tricolor clamava aos céus pela volta do Brasileirão.
Garantia
de casa cheia? Que nada. Pouco mais de 9 mil gatos pingados testemunharam a
partida do único Tricolor contra o primo genérico da Paulicéia Desvairada.
Parecia até que a crise política e o presidente renunciante eram nossos. Alguma
coisa nessa alquimia entre time, torcida e Novo Maracanã não está funcionando.
Oxalá isso comece a mudar na próxima quarta, na semifinal da Copa do Brasil.
Em
campo, tivemos o melhor Fluminense possível, o que não equivale exatamente a um
Fluminense encantador. Algumas coisas não mudaram: terminamos com menos posse
de bola (60% x 40%) e menos finalizações a gol (11 contra 6). Seja qual for o
técnico, parece estar no DNA desta equipe a recusa ou a incapacidade de
controlar o jogo e comandar a posse de bola.
Ou
o Fluminense é pura eficiência nas poucas chances de gol criadas ou nada.
Trata-se de um time que não pode contar com volume de jogo para construir suas
vitórias. Mas que pode contar com uma solidez defensiva que começa a se
esboçar. Eu disse “começa”, porque os 6 gols sofridos contra a Ponte e contra o
Santos indicam um time que ainda precisa demonstrar melhor compactação
defensiva fora de casa.
Essa
solidez defensiva, obviamente, não é fruto do acaso, ou tão somente de duas
linhas de 4 muito próximas sem a bola. O Fluminense de Baptista deixou de
marcar individualmente e correr atrás dos adversários. Agora marca por zona e
dificulta os dribles e triangulações do oponente. Fosse com Enderson, teríamos
visto Pato e Rogério atraindo a marcação de 2 ou 3 defensores nossos e abrindo
espaço para infiltrações do Luís Fabiano, Ganso ou um dos volantes. Por conta
disso, é preciso ter compreensão quando nossos jogadores aparentam marcar à
distância ou com desinteresse. O Fluminense nega espaços, em vez de ir à caça
do adversário.
Ofensivamente,
somos uma equipe orientada para o contra-ataque. As peças para esse estilo de
jogo começam a se encaixar: uma saída de bola mais qualificada com Cícero e
dois meias abertos que dão velocidade e profundidade ao jogo: Scarpa pela
esquerda e Marcos Júnior pela direita. Na frente, Fred é a inegável referência
e faz o pivô como poucos.
O
elemento que falta nesta equação é o camisa 10 que puxa o contra-ataque e lança
os pontas com qualidade. Mais uma vez este cara não foi Gerson, demasiadamente
espetado na frente, atrás dos volantes e sem dar opção de jogo, a la R10.
Lembram quando diziam que ele estava escalado errado na direita? Pois é. Agora
atua pelo centro do campo e a improdutividade permanece. Vinicius entrou no
segundo tempo e no 2º toque na bola mostrou como se verticaliza uma jogada e
lançou Marcos Júnior na direita.
E
o que se sucedeu foi uma obra de arte. O corte por trás em Lucão foi uma
pintura, a conclusão de canhota na gaveta a pincelada final. Um gol de placa no
Maracanã. De um jogador que amadurece a olhos vistos, conclui com as duas
pernas, e já protagonizou alguns belos gols em 2015: Vasco e Grêmio (1º turno),
Coritiba (2º turno) e agora este contra o São Paulo. O estilo marrento e afobado
o impede de ser xodó, como Scarpa. Mas raramente acumula uma longa sequência de
partidas apagadas.
Voltando
ao Vinicius, faz-se urgente que ele recupere a condição física. Jogou 45
minutos e cansou. Com fôlego para 90 minutos pode virar a peça que faltava nessa engrenagem e justificar sua renovação
de contrato. E também o elemento que permita que o Fluminense deixe de ser um
time de uma nota só e também seja capaz de reter bola na frente e propor o
jogo.
Falando
em repertório, outra peça foi adicionada ao recital: a bola parada. Foi com
certa alegria que ouvi Eduardo Baptista na coletiva pós-jogo informar que o gol
de escanteio foi exaustivamente treinado. Futebol não tem muito segredo. O jogo
é espelho do que se treina. Com a qualidade da batida do Scarpa e a
centroavância fatal de Fred, eis uma arma que vínhamos desprezando e agora
aparece disponível no cardápio.
As
baterias agora se voltam para o Cruzeiro, no próximo domingo, partida que este
blogueiro assistirá in loco. Será a partida entre um time que só mira o
Brasileirão contra um Fluminense que tem um olho no gato e outro no peixe, ou
se preferirem, um olho na raposa e outro no porco. Pessoalmente, espero ver um
Flu em busca da vitória, jogando com intensidade. Creio que seja a melhor
maneira de se chegar no mata-mata: com moral, vindo de vitória, jogando em alta
rotação. Mas não descarto a hipótese de Baptista poupar alguns jogadores e assistirmos
a um Fluminense cozinhando o jogo, tentando voltar para casa com um pontinho
abençoado. As chances de chegarmos na quarta-feira com um Fluminense em bom
astral e um Palmeiras em crise não são pequenas.
E
daí pra frente é com a torcida tricolor. Haverá festa das bandeiras, pó de arroz
e a possibilidade de ver nossa força na arquibancada ressurgir. Quando a
torcida tricolor produz o suave milagre da multiplicação e se banha de fé, o
Fluminense vira força da natureza. Tome parte você também desse cataclisma. Sem
uma boa dose de saudável loucura, esse caneco não vem.
Tiro
Livre:
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O São Paulo está construindo uma bela freguesia para o Fluminense. Nas últimas
16 partidas, foram 9 vitórias nossas, 4 empates e apenas 3 derrotas. É um dos poucos
times que não ressuscitamos da crise, em que lei do ex não pega (Bruno não
jogou nada), e é uma das vitímas preferenciais do Fred.
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Por falar em Fred, duelo vencido contra Luís Fabiano. Enquanto Fred costuma
tirar todas os escanteios batidos no 1º pau, Luís Fabiano falhou justamente
quando a ele foi confiada a tarefa, e no embate direto com nosso centroavante, nasceu
o 1º gol tricolor. No quesito liderança em campo então, o fosso é ainda maior.
Mas vá fazer uma enquete com a imprensa paulista para ver quem eles preferem.
- Ah se tivéssemos um pouco mais de qualidade e agressividade nas laterais. Com Breno Lopes e Higor ficamos um tanto capengas pelos lados....
- Ah se tivéssemos um pouco mais de qualidade e agressividade nas laterais. Com Breno Lopes e Higor ficamos um tanto capengas pelos lados....
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Quando chegou ao Rio a trabalho, Miele foi adotado por uma turma de tricolores
de primeira grandeza: Ronaldo Bôscoli, Chico Buarque, Nelson Motta, Hugo
Carvana, entre outros. Eram os tempos da briosa e histórica Jovem Flu. A identificação
com o Fluminense foi instantânea. Hoje, ao lado de Carvana, Miele reforça o
toque de boemia entre os tricolores do céu. A quem tanto contribuiu para o
engrandecimento da música popular brasileira, na condição de diretor e produtor
musical, nosso imenso respeito.
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Enquanto isso, Eurico Miranda faz hora extra na Terra....e na CPI engana-trouxa
do Romário.
Por Bruno Leonardo
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