Fred comemora a vitória tricolor sobre o Vasco em um camarote do Engenhão (Imagem: reprodução Sportv) |
Eu pensei em escrever este texto com comedimento para
dizer que o Vasco e seus torcedores são uma coisa, e que Eurico Miranda é
outra.
No fundo eu sei que são coisas distintas, mas deixo este
exercício do discernimento para quem estiver dotado da devida paciência. Não
acordei com pendor para o politicamente correto.
Prefiro lembrar que quem elegeu o consumidor de falos
fumegantes foi um punhado grande de vascaínos. Assim como um punhado grande de
vascaínos, iludidos com a proteção do ecossistema FERJ, batia no peito e corria
às redes sociais para dizer: “o respeito voltou”.
Nesta onda de delírio coletivo, vi alguns vascaínos de
renome, escritor Paulo Coelho incluído, repetir a ladainha. O respeito,
constrangido com o uso indevido de seu nome, sentou à margem do Rio Guandu, e
chorou.
Acontece que o futebol brasileiro e a CBF são outros
charutos.
O apito funciona ao contrário. Na hora da dificuldade,
aponta-se também a marca da cal, mas contra.
Jogadores que trocam socos e pontapés não têm o
julgamento postergado ad eternum, como ocorre no tribunal local, a casa das cartas marcadas.
O aliciamento da base tricolor, que aqui conta com a
complacência da federação bandida, é punido pela CBF e repreendido por outros
clubes formadores.
Não que a CBF seja uma ilha de jogo limpo, longe disso. Trata-se
apenas de um esquema no qual Eurico não ocupa a cabeceira da mesa, não legisla
via arbitral. É preciso beijar mãos.
O campeonato brasileiro, portanto, vira um oceano hostil
para a caravela náufraga. Um choque de realidade brutal.
E como a malandragem coca-cola, esse traço tão típico do
caráter nacional, sempre é pega na curva, o outrora gigante da colina teve um
encontro fatídico com seu rival de campo e bastidores. Faltava uma bala de
canhão nossa no casco da nau pra ajudá-la a adernar de vez. Agora não falta
mais.
Estava entalada na garganta a freguesia. Três anos, 10
jogos. Curiosamente nossa última vitória havia sido no Engenhão, estádio de
saudosas lembranças, nosso salão de festas. E veio na melhor hora.
O escrete tricolor esbanjou maturidade. Com a eliminação
doída na Copa do Brasil na cabeça, a equipe soube encontrar na rivalidade uma
fonte de motivação, mas sem se perder em provocações e briguinhas. O troco foi
dado, mas executado de forma fria, com a bola rodando de pé em pé.
Percebem como aos poucos aquele time do Enderson, que
tinha dificuldade de reter a bola na frente, de exercer algum nível de controle
do jogo no meio de campo, hoje é uma equipe que põe a bola no chão?
Pela segunda partida consecutiva terminamos uma partida
com mais posse de bola e mais finalizações a gol. Contra o Palmeiras, na quarta-feira,
59% contra 41% de posse de bola, 13 finalizações contra 8. Contra o Vasco, 52%
contra 48%, 11 finalizações contra 10.
Longe de mim querer transformar posse de bola e
finalizações a gol em verdades absolutas do futebol. Sequer significam por si
só controle do jogo. Mas na forma como dominamos o segundo tempo contra a
equipe paulista e em todo a partida de ontem, os números refletem controle. E
refletem um time que ao contrário do que se via até pouco tempo atrás, já não
tenta obter o máximo de resultado fazendo o mínimo.
Em outras palavras, o Fluminense começa a se impor com volume
de jogo, constrói seus gols em vez de achá-los. Para que não fiquemos presos a
um resultadismo retrógrado, é preciso que atentemos para a gradativa evolução
do trabalho de Baptista. É a forma mais correta de se avaliar um trabalho.
Baptista tem demonstrado coragem. Percebendo que não há
no elenco alternativa decente à ausência de Fred, nosso treinador mudou o
paradigma e mandou o time a campo sem centroavante, uma vez que entrar com Wellington
Paulista ou Magno Alves seria dar à defesa do Vasco uma referência estática. O
Fluminense criava espaços pelos lados com Gerson e Osvaldo, que atraíam a marcação e abriam espaços pelo meio para a incursão de Vinicius ou Scarpa na área, confundindo a
dupla Rodrigo e Luan. Por vezes, o próprio Gerson se posicionava à maneira de um falso 9.
O contra-ataque, que antes não fluía e morria ainda no
nascedouro, agora acontece. Falta apenas inteligência e qualidade na conclusão.
Outra escolha de certa ousadia foi escalar Wellington
Silva na esquerda, que se mostrou acertada, em que pese o inegável estilo
peladeiro do jogador e o gol bisonhamente perdido no final. Valeu pela
segurança defensiva, pelo gol salvo em cima da linha e até pelo bom
entendimento com o Scarpa. Mas pelo fraque de Oscar Cox, como é ruim esse
sujeito!
O restante do campeonato servirá como campo de
observações para Eduardo. Com quem poderá contar para o ano que vem, quem
deverá integrar a barca, quais carências precisam ser preenchidas. Essa observação
será tão mais proveitosa quanto mais ele tiver êxito em manter o elenco
motivado. Desafio complicado, porque a esta altura, contatos já estão sendo
feitos e alguns jogadores já procuram seu rumo. Serão 3 jogos em casa, uma
chance remotíssima de terminar no G4 e uma chance mais polpuda de terminar o
campeonato dignamente.
Vai pra cima, Fluminense.
Vamos aproveitar este resto de feriado e rir um pouco
mais do charuteiro safado. Aquele que de tanto se preocupar com o lado direito
do Maracanã, vai conduzir seu clube ao lado B do futebol brasileiro. O terceiro
rebaixamento em 7 anos. Vale música no Fantástico?
Por fim, dirijo-me a você, caro leitor. Pegue leve com
seus amigos vascaínos. Entre o futebol e a amizade, sabemos que a amizade vem
em primeiro lugar. O Vasco, naturalmente, vem em segundo.
Tiro Livre:
- Scarpa já é uma realidade e dá mostras de que manterá
seu crescimento no ano que vem. Tem visão de jogo, velocidade, boa conclusão, e
sobretudo humildade. Fazia tempo que um meia oriundo da base não vingava no
profissional neste nível. Como perdemos tempo com ele na lateral.
- Uma pena que Gerson só tenha reencontrado seu futebol
nesta reta final de campeonato. Voltou a ser o jogador incisivo e que dá continuidade
às jogadas, sem apelar para o cai-cai. Até na marcação tem contribuído. O único
problema é quando se entrega desta forma às partidas, se ressente do desgaste
físico e acaba sendo substituído precocemente, como aconteceu ontem.
Por Bruno Leonardo
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