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» » » » » » A estranha moral da entrega
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Faixa estendida no Orlando Scarpelli pela torcida do Fluminense pedindo a derrota do time (Foto: Hector Werlang/GE)


O último sábado havia sido um dia eminentemente tricolor.

Relembramos os 5 anos do tri, Engenhão lotado, a taça levantada, o término de uma longa travessia pelo deserto dos 26 sem anos sem um título brasileiro. Um Fluminense que se regozijava de suas próprias glórias e méritos.

Havia sido também a inauguração do busto de Oscar Cox, fundador da nossa paixão, carregado pelos seus “descendentes” em périplo pelas ruas de Laranjeiras.  Um dos tantos símbolos da fidalguia tricolor, do jogo limpo, da ética que não se regula pela ética alheia ou pela falta dela, mas por princípios inegociáveis.

Aí veio o domingo.

E começou a se respirar um ar estranho nas redes sociais.

“Entrega”, “Eu escolhei te rebaixar” e uma série de dizeres estranhos ao Fluminense, de um revanchismo desinibido, convidando a todos a beberem da taça da retaliação.

Desnecessário eu me estender aqui relembrando todos os episódios em que fomos alvo dos achincalhes do asqueroso Eurico Miranda e de suas maquinações recentes em conluio com o fétido presidente da FERJ, Rubens Lopes, para prejudicar o Tricolor.

Comum a todos nós a certeza de que se Fluminense e Vasco estivessem em situações invertidas, Eurico mandaria seu time entregar para nos rebaixar.

Mas era nossa oportunidade de afirmarmos perante o mundo que somos diferentes. De que somos incapazes de defender práticas que abominamos, e que costumamos atribuir à natureza dos nossos rivais. Práticas, inclusive, das quais fomos vítimas, em 1996, quando nas rodadas finais Vasco e Flamengo não fizeram nenhum esforço para derrotar um rival direto nosso na luta contra o descenso, o Bahia.

Mas boa parte (espero que a internet não seja indicativo de uma maioria) preferiu cair na vala comum da trapaça e defendeu a entrega. Certamente com a consciência anestesiada pela máxima “isso é apenas futebol”, como se o esporte bretão representasse uma dimensão da vida com moralidade própria e sem maiores consequências práticas.

Ou movidos pela certeza de que, por mais intensas que fossem nossas súplicas para que o time adotasse o corpo mole, elas não seriam atendidas, fazendo com que tudo não passasse de uma divertida galhofa para passar o tempo.

No final das contas, o Vasco nem fez a sua parte. Sequer venceu sua partida e provou do gosto amargo de lhe negarem um pênalti claro. Logo o Vasco, que no estadual do Roubinho tem pênaltis distribuídos às dúzias, até quando não faz questão de ser agraciado com um.

De volta ao Orlando Scarpelli, foi muito estranho ver a torcida tricolor presente vaiar qualquer marcação do árbitro que favorecia o Fluminense ou jogador nosso cumprindo o papel que é remunerado para exercer.

A inversão de valores ganhou cores mais vivas quando saiu o gol do Figueirense e torcedores pulavam e se regozijavam como se fosse gol do Fluminense. Uma torcida tricolor ao avesso de sua própria dignidade, com quem teria dificuldade de dividir a arquibancada.

Eu não sei se alguém já se deu conta, mas demos motivos para nossos rivais pensarem que, no fundo, não somos diferentes deles. A princípio, nos sentimos justificados, porque estamos dando o troco. Mas se os papéis estivessem invertidos em 1996? Faríamos igual? Mandaríamos rebaixar o Flamengo?

Agora tudo parece uma mera questão de cronologia. Fomos sacaneados primeiro e agora tivemos a possibilidade de sacanear de volta. Não há mais mocinhos e bandidos, apenas alternâncias nos papéis de escarnecedores e escarnecidos.

Não vai faltar quem junte essas estranhas imagens aos gatos pingados que fizeram festa na porta do STJD com a decisão de rebaixar a Portuguesa. Decisão inquestionável, fiel à letra do regulamento, mas que jamais deveria ensejar festa e sim consternação. Sobretudo porque tal episódio nos salvou de um rebaixamento obtido em campo.

São exemplos de desserviço voluntário à própria imagem, absolutamente desnecessários.
Logo a torcida do Fluminense, que é capaz de ser a mais bela e poética do mundo quando se incumbe da tarefa de lotar o Maracanã e fazer festa para conduzir seu time à vitória.

E ontem não havia a mínima necessidade de pressionar por uma entrega. O time que começou a partida já era pouco competitivo e as substituições do 2º tempo trataram de expor toda a fragilidade do nosso elenco. Até que fizemos um 1º tempo digno e conseguimos tirar algum proveito do horrendo time catarinense. Mas bastou sair Léo Pelé, machucado, e entrar Jonathan, sair Marcos Jr e entrar Lucas Gomes, e Robert no lugar de Pierre, para que tivéssemos em campo uma perebada incapaz de “machucar” o adversário.

O adversário, por sua vez, nos machucava literalmente, descendo a bota, e contando com a conivência do inclassificável Dewson de Freitas. A imagem que melhor sintetiza o espírito carniceiro do time do Figueirense foi a entrada criminosa de Carlos Alberto, com a sola da chuteira, logo abaixo do joelho de Léo Pelé. Um talento perdido para a marginalidade.

Falemos um pouco agora da nossa realidade local.

São tempos estranhos no futebol carioca.

Vasco rebaixado na série A, Macaé rebaixado na série B e Madureira na série C, todos aliados da federação. Sintomático ver Eurico Miranda e Elias Duba, representantes da malandragem coca-cola, colherem os frutos do próprio arcaísmo.

Mas ano que vem estarão lá, mudando o regulamento do estadual a cada duas semanas, pendurados no saco do Rubinho, imaginando extrair sei lá que vantagens. Cantarão de galo no terreiro de um estadual esvaziado e correrão para não fechar as portas no segundo semestre.

Mas sempre contando com as portas abertas de grande parte do radialismo carioca, tão mofado e destituído de credibilidade quanto a própria FERJ.

E assim segue a valsa do futebol carioca. Uns se iludiram com a volta do respeito, outros se empolgaram precocemente com a volta ao G4 após 4 anos de ausência, tricolores (eu incluído) caíram no conto do ex-craque de renome internacional e botafoguenses comemoram título da série B.

É preciso modernizar a gestão dos clubes, decerto. Mas isso também passa pela modernização das mentes, incluindo torcedores. Caso contrário, se deixarão levar novamente por cantos de sereia e reconduzirão ao poder projetos arcaicos, que só fazem perpetuar ciclos de alegria efêmera e dor.

A imagem de um Eurico Miranda envelhecido, abatido, e, diz-se por aí, portador de uma incontinência urinária que o faz molhar as calças é o próprio emblema da falta de rumos.
Não só do Vasco, mas de um futebol que terminou sem ocupar a 1ª página da série A. Sem dinheiro, estrangulado pelas condições impostas pelo Profut, sem estádio decente durante boa parte do próximo ano.

Estamos todos, tricolores, flamenguistas e botafoguenses, rindo do naufrágio da caravela. Mas ao rirmos, expomos nossas bocas banguelas.

Por Bruno Leonardo


Autor: Bruno Leonardo

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