No sábado eu
e meu amigo Rafael, vulgo Papagaio, havíamos visitado o Lulão, aquele estádio
construído com uma linha de crédito camarada do BNDES, que muitos penam para
obter e não conseguem. Apesar das linhas modernas, lembrou-me um Engenhão
piorado, com um grande vão entre as arquibancadas atrás do gol e uma estreita
faixa de cobertura acima delas, transformando-o num estádio aberto e com
acústica precária. Visto de cima, lembra uma impressora multifuncional. Chamei
o que vi de mau gosto.
É que Narciso
acha feio o que não é Maracanã. E à mente apavora o que não é mesmo velho, mas
já parece descartável. A desajeitada arena abrigou a partida entre
Internacional e Corinthians, que lembrou outras tantas que costumamos assistir no
campeonato brasileiro: o time visitante faz uma graça, abre o placar, recua, toma
pressão e leva a virada. Guardou, até certo ponto, bastante semelhança com a
partida que era a razão de ser da minha viagem a São Paulo: a do Fluminense contra
o Palmeiras, na bela arena alviverde.
O que falta
de coesão arquitetônica e ambiente de estádio de futebol ao Itaquerão sobra na versão modernizada do Parque Antártica. O simples fato de ser todo fechado, com uma cobertura mais
ampla e ter dois lances de arquibancada envolvendo todo o campo, dá à arena do
Palmeiras a sensação de estar num estádio de futebol, e não em uma arena
multiuso sem personalidade. A favor do Itaquerão, os amplos espaços para
circulação dos torcedores do lado de fora, contra as ruas estreitas, disputadas
por torcedores, carros e ambulantes, no entorno do Allianz Parque. Uma presença
mais ostensiva de funcionários orientando o trajeto dos torcedores e o metrô
mais próximo são outras vantagens oferecidas pelo estádio corintiano. Mas no quesito “alma de estádio”, larga
vantagem para o estádio palmeirense. Uma pena não ter conhecido a nova casa
palestrina em um dia de exibição de gala do Fluminense.
Que foi à
campo com 3 volantes, muita cautela e uma determinação de jogar retrancado, só
agredindo o adversário em contra-ataques esporádicos. E foi um difícil começo. Quem
vinha de outro sonho feliz de time, aprendeu depressa a chamar aquilo de
realidade. Como já era de se esperar, fomos imprensados por um Palmeiras que
exalava mais transpiração do que talento. O Fluminense respondia com bolas
rifadas e uma dificuldade para sair jogando, a exemplo do que vimos contra o
Atlético-MG e o Flamengo.
Peço
permissão para abrir aqui um parêntese: na vitória contra o Rubro-Negro jogamos
como proposta semelhante, em que pese termos iniciado a partida com 2 volantes
e Wagner no lugar de Pierre. O que enterrou as pretensões do Flamengo foi o
fato de termos um pênalti assinalado a nosso favor logo no início de jogo.
Pouco depois, em gol contra de Pará, ampliamos a vantagem. Mas mesmo com uma
linha de 3 meias bem limitada (Everton, Paulinho e Arthur Maia) o time do
capeta havia imposto quase 70% de posse de bola no 1º tempo. A vitória camuflou
algumas de nossas deficiências e deu o tom das resenhas: “vitória do Time de
Guerreiros”, “vitória da superação”, etc. Ontem percebi que boa parte das resenhas fala
de um Fluminense acovardado, jogando como time pequeno.
Contra o
Palmeiras, também abrimos o placar, tivemos dificuldade de botar a bola no chão
e trocar passes, e perdemos a oportunidade de matar o jogo com Vinicius ainda
no 1º tempo. A mesma combinação de jogar acuado e ser gradativamente sabotado
pela arbitragem ocorreu, sem que dessa vez tivéssemos a eficiência para matar o
jogo nos contra-ataques e evitar as arapucas do apito. O Sr. Dewson Fernando
Freitas assistiu a uma partida paralela, que só ele deve ter visto, em que o
Fluminense baixou o sarrafo e o Palmeiras atuou com uma falange de anjos querubins.
O árbitro padrão Joseph Blatter, digo padrão FIFA, aplicou 6 cartões amarelos e
2 vermelhos contra o Tricolor , alguns por reclamação, outros por jogada
faltosa, e nenhum contra o Palestra.
Para quem
ainda não sabe, oito a zero foi a maior diferença observada na quantidade de cartões
aplicados entre duas equipes neste campeonato brasileiro. Por mais que sejamos
realistas e conscientes das mazelas técnicas e táticas da nossa equipe, a verdade é que nenhum
time no futebol brasileiro tem estofo técnico para jogar na casa do adversário,
levar seis cartões amarelos, sofrer duas expulsões e ainda pontuar. Ninguém,
ainda mais o nosso carente elenco, tem condições de abrir mão de uma arbitragem
isenta. Num campeonato nivelado por baixo, uma arbitragem caseira faz sim a
diferença. Cabe ao Fluminense jogar mais bola. Mas também cabe à sua cartolagem
colocar a boca no trombone. Com o poder ditatorial dado aos árbitros para punir
com amarelo qualquer reclamação, foi dado o sinal verde para se passar a mão na
bunda, roubar a carteira e ainda aplicar punição sobre quem tiver se sentido
sacaneado. Vivemos no futebol brasileiro o avesso do avesso do avesso do avesso.
Saldo final: Fui para casa
abatido, desencantado com a vida e o futebol. No dia seguinte, deu na primeira
edição: cenas de latrocínio explícito numa partida do brasileirão.
Visão panorâmica do Allianz Parque (Foto: Bruno Leonardo/FluLink) |
TIRO LIVRE:
- Se na
partida contra o Sport Gerson deu um show de mergulhos ao chão, contra o
Palmeiras errou 9 entre cadas 10 matadas de bola. Nas dividas pelo alto, sequer
saltava do chão, e mostrou pouco tesão em recuperar a posse de bola quando a
perdia, fora o pé mole nas divididas. Sequer exijo que Gerson jogue um futebol
de 30 milhões de euros. Isso é o que provavelmente vão pagar pelo que ele
poderá jogar um dia. E que não me digam que estou ajudando a fritar o garoto. O
horizonte de Gerson não é mais o Fluminense. É o Barcelona. É lá que está a sua
cabeça, em contagem regressiva para sair do Flu, como se o Flu fosse um
estorvo, uma incômoda casca de feijão no dente. Só gostaria que ele e seu pai
falastrão lembrassem que se hoje estão excitados pela possibilidade de jogar no
clube catalão, essa oportunidade quem proporcionou, com investimento de tempo,
trabalho e dinheiro foi o Fluminense. Não custa à promessa de craque jogar com
mais fome. Já é muito “cansado” para a pouca idade que tem.
- Que
expulsão estúpida, Magno Alves. O pontapé na perna do Gabriel não foi um ato
intempestivo, de quem estava sendo incomodado em uma disputa de bola. Ele foi
premeditado. Não conseguiu acertar em cheio o primeiro chute e teve tempo de
repensar sua decisão. Mas foi decidido para a segunda tentativa, acertando em
cheio a canela do adversário. É caso para multa pesada no salário e muito
esporro. Mas provavelmente será absolvido pelo comando de futebol, que o defenderá
como mais uma vítima da arbitragem.
- Vi falha de Cavalieri nos 2 gols palmeirenses. No primeiro a conta pode ser dividida com Magno Alves, que perdeu a disputa pelo alto com Rafael Marques. Mas nosso arqueiro nem saiu para tentar afastar a bola e nem ficou plantado no gol. Ficou pelo meio do caminho. No segundo lance, em cobrança de falta, gerou rebote para o meio da área, para que Cristaldo fizesse seu gol todo atabalhoado, quase caindo sobre a bola.
- Após 7
rodadas, enfrentamos um mix de clubes pequenos (Joinville), médios (Coritiba e
Sport), grandes (Atlético-MG,Corinthians e Flamengo). Saldo de 3 vitórias, dois
empates e duas derrotas e um oitavo lugar na tabela de classificação. É sempre
cedo a essa altura tecer prognósticos, mas já temos algum subsídio para isso.
Achei este oitavo lugar bastante emblemático e ilustrativo. Desejo imensamente
ao fim do ano estar errado e comemorando título ou vaga na Libertadores, mas todos
os ingredientes reunidos pelo Flu este ano, parece pouco provável.
Por Bruno Leonardo
Da esquerda para a direita: Rafael, seu pai Sr, Roberto e este humilde blogueiro que vos escreve no Allianz Parque |
Visão perfeita do jogo e do de amarelo. Quanto às arenas, só mostra quanto nosso futebol carioca é pobre a não atria patrocinadores.
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