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Marcos Jr recebe golpe de UFC na cabeça quando se preparava para cabecear a gol (Foto: Cézar Loureiro/ O Globo) |
Um amigo no
Twitter argumentou que futebol é um esporte de evento raro, chamado gol.
No que concordei imediatamente com ele. Eis porque um erro de arbitragem pode dar ensejo a
tanta discussão. Se o evento gol é de difícil execução e um time se vê privado
de cometê-lo, o erro de arbitragem deixa de ser mera eventualidade para se
tornar um grave ato de injustiça, deformando a realidade do jogo.
Não houve um
pênalti em Marcos Jr ao fim da partida. Houve dois. Por cima e por baixo,
cabeça e pernas atingidas. Como o lateral Renê não teve competência para
decapitar o atacante tricolor, o soprador de apito entendeu por bem aplicar os
critérios de Mauro Cézar Pereira e não assinalou a infração. Ora bolas, não vamos
banalizar a instituição pênalti. Ela só se aplica nos casos em que o atingido
vai a óbito, especialmente se o lance acontece no fim de um jogo que caminhava
para um salomônico empate.
Se o futebol
é esporte de evento raro, as oportunidades criadas para a consumação do gol não precisam ser tão raras. O primeiro tempo entre Fluminense e Sport foi
modorrento a ponto de causar bocejos. Foi o jogo de um Fluminense incapaz de
surpreender a defesa bem postada do adversário contra um Sport determinado a
especular com o jogo, um pouco à moda Tite. O resultado foi o famoso chove não
molha. O Fluminense tentou inverter os papéis passando a marcar muito atrás e
dando o campo para o Sport gostar do jogo e vir pra cima, convite elegantemente recusado pela equipe recifense. O roteiro que se
desenhava era o Fluminense achar o seu gol e só então o Sport passar a jogar de
verdade, mostrando uma personalidade de time reativo.
Discordo
daqueles que entendem que marcar atrás e
só sair no erro do adversário seja a única forma de se defender e evitar ser
surpreendido. É a opção que resta no futebol brasileiro, atrasado até mesmo no
quesito preparação física. No futebol europeu também se joga quarta e domingo,
com os campeonatos nacionais, as copas nacionais e a Liga Europa/Liga dos
Campeões. E a intensidade de jogo é outra, com marcação alta e corrida
incessante para recuperação da posse da bola quando se perde a mesma. Também é outra a quantidade de arremates, passes certos e chances de gol criadas, sem que
isso signifique abandono dos cuidados defensivos. Quem assistiu à final da Liga
dos Campeões, teve uma clara exemplificação do que estou falando. E nem tudo
ali se explica pela via da qualidade técnica não. É o entendimento do jogo de
futebol que é diferente.
Nada parecido
com que o vimos entre Fluminense e Sport no domingo, cujas equipes somaram 92
passes errados em todo o jogo. O time pernambucano impôs uma improdutiva posse
de bola, em torno de 57%, para produzir um único arremate na direção do gol, em
chute de Diego Souza que obrigou Cavalieri a uma ótima defesa. Vale ressaltar que
o campeão brasileiro de 1987 jogou desfalcado do meia-atacante Élber
(lesionado) e do centroavante Joélinton (negociado ao Hoffenfheim), o que
talvez tenha contribuído para uma produção menos efetiva no ataque. Porém, de
uma forma geral, posse de bola para Sport e Fluminense, na maior parte do tempo
representou uma mera ferramenta de defesa, para não gerar contragolpes.
Basicamente, vejo 3 fatores para que se pratique
este futebol cauteloso no Brasil, que é confundido com “jogo estudado, entre
duas equipes bem montadas”:
1) Falta de
qualidade técnica: a falta de domínio do fundamento passe gera um medo
excessivo de gerar o contra-ataque adversário. Apela-se então para uma saída de
bola cadenciada, sem risco, e com excesso de passes laterais e recuos de bola
para o goleiro (Gum e Cavalieri sabem do que falo).
2) Preparação
física deficiente: Marcar alto, atacar com volume de jogo e correr para
recuperar a posse de bola ao perdê-la é mais cansativo. O caminho mais fácil é
colocar 11 atrás da linha da bola para fechar espaços, em vez de sufocar a
saída de bola.
3) A alta
rotatividade dos treinadores brasileiros. Com a demissão de Marquinhos Santos,
ex-Coritiba, chegamos a 6 treinadores demitidos no Brasileirão. Média de 1 por
rodada. O treinador se apega mais ao empate do que à ambição de buscar a
vitória e os 3 pontos. Sabe que nosso cultura é resultadista. Se perde um jogo
em que assumiu riscos e foi pra cima em busca da vitória, será o resultado e
não a postura em campo o fator mais ressaltado.
A
irregularidade das equipes, a recomposição dos elencos após a janela europeia,
e a alta rotatividade de treinadores jogam quase todos na vala comum. O
Cruzeiro nos últimos 2 anos manteve uma espinha dorsal de elenco, gerente de futebol e treinador que
o colocou muito à frente dos demais. Neste brasileirão não temos um clube com
esta característica, que largará na frente e fará os outros comerem poeira. Eis
porque o Fluminense, ainda achando sua melhor formação e buscando uma solução para
sua falta de transição rápida para o ataque, ainda tem elementos para sonhar
com um papel de protagonista no campeonato.
Mas já é hora
do Fluminense parar de se contentar em se nivelar por baixo. O futebol mostrado
até aqui está de bom nível para quem projeta um oitavo lugar no campeonato, mas
para quem almeja título ou ao menos beliscar uma vaga na Libertadores ainda é
pouco. Nesse 4-2-3-1 de saída de bola
lenta e pouco avanço dos laterais, vai ser difícil surpreender o adversário.
Não foram poucas as vezes na partida de ontem que vi Gerson conduzir a bola,
olhar para o lado e ver Renato duas ou três passadas atrás, se recusando a
fazer a ultrapassagem. Wagner enfrenta agrura semelhante com Giovanni pela
esquerda. E na frente temos um Fred ora
fixo entre os zagueiros, ora recuando excessivamente para fazer o pivô, mas
fazer o pivô para quem? Para meias que têm dificuldade de romper na direção do gol ou para
laterais que não avançam?
O Fluminense continuará
a ser um time preparador de cruzamentos dessa forma, pela incapacidade de jogar
de maneira veloz e vertical. Não vai adiantar se queixar que o adversário não
deixou jogar, que estava excessivamente recuado, ou dizer que do outro lado tem
onze caras dispostos a vencer também.
O Fluminense precisa
encontrar caminhos novos para a vitória, em vez de ficar enaltecendo
adversários.
TIRO LIVRE:
- Continuo
achando que mais vale o desengonçando Wellington Silva fazendo uma fumaça no
ataque do que contar com o sonolento Renato, que não ganha uma jogada
individual e tem receio de apoiar. Que se dê cobertura à avenida que Wellington
Silva deixa quando sobe e não volta, mas contar com um lateral nulo no ataque como Renato, num
time que já demonstra poucas alternativas ofensivas, complica.
- O árbitro Paulo Roberto Alves Jr. talvez
tenha batido o récorde sul-americano de inversões de falta e outro récorde de
faltas ignoradas. O que muito dificulta a vida desse blogueiro, que queria
ressaltar que apesar de ter apanhado um bocado do time do Sport, Gerson também
abusa do expediente de se jogar ou esperar a falta na maioria das divididas.
Anda jogando mais no chão do que em pé. Vamos jogar mais Gérson! Bola pra isso
você tem!
- Gosto da
ideia de enfrentar um Palmeiras pressionado, que ainda não conquistou uma única
vitória em casa pelo Brasileirão e que possivelmente enfrentará o Fluminense de
técnico novo. Será um jogo de configuração diferente, com mais oportunidades de
contra-ataque. Teremos o desfalque de Wagner. Se Enderson entrar com Marcos Jr. de início pode ter uma opção de velocidade para puxar contra-ataques. Não é a
ideal, mas é o que temos, pelo menos enquanto Kenedy não retorna.
- Sim, Kenedy
faz muita falta.
Por Bruno Leonardo
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