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Eurico Miranda e Peter Siemsen estão no centro do conturbado contexto extracampo do clássico deste domingo (Fotomontagem: Extra) |
O
sucesso tricolor incomoda. E não tenha dúvidas, torcedor, que esse é o maior
regozijo que podemos ter no que se refere à opinião alheia. Você já deve estar
careca de saber que jamais seremos bajulados pela imprensa esportiva e muito
menos ainda seremos reconhecidos pelos rivais.
Temos
o maior artilheiro dos pontos corridos e do novo Maracanã. Quantas vezes você
viu esse fato ser exaltado na grande mídia? Afinal de contas ele joga futebol,
ele não broca.
Anunciamos
há uma semana a contratação de maior peso técnico e potencial midiático desta
janela de transferências: Ronaldinho Gaúcho.
Qualquer
pessoa de boa vontade há de juntar uma coisa à outra e concluir que o
Fluminense possui a dupla ofensiva mais capacitada e perigosa do campeonato
brasileiro. E que o Tricolor se credencia de vez, com isso, ao posto de
favorito ao título.
Um
passeio rápido pela internet ou pelas mesas redondas, no entanto, aponta outra
enfoque: contratamos um jogador decadente, que pode comprometer a coesão do
grupo e a saúde das finanças. O sucesso recente no Atlético-MG passa ao largo
de quaisquer cogitações. O incremento imediato na adesão de sócios e na venda
de camisas, já percebido, não vira pauta.
O
clássico contra a agremiação cruzmaltina é sistematicamente esvaziado. Há uma
constante comparação entre a venda de ingressos da partida de domingo com a
venda de ingressos do Mais Bajulado, que acontece neste sábado, com a conclusão
tendenciosa que o Rubro-Negro sozinho põe mais gente que Flu e Vasco juntos.
Ponderações
sobre o fato da torcida do Vasco ter boicotado o jogo, seguindo recomendação do
seu decrépito presidente? Esqueça.
De
manhã, me deparo com a publicação de uma matéria em que Jackson Vasconcellos
afirma que até a data de seu desligamento do clube, em agosto de 2014, não
havia qualquer cláusula assegurando o usufruto fixo das arquibancadas à direita
das cabines de rádio e tv.
O
timing da matéria, às vésperas de um clássico, já é por si só suspeito. A
escolha do entrevistado, idem. Não é segredo para ninguém que ao longo de sua
passagem pela gestão do clube Jackson acumulou múltiplos desafetos. Impossível
imaginar que suas declarações sejam desinteressadas e não tenham o intuito de
perturbar. A veracidade de suas informações jamais poderá ser confirmada, uma
vez que o contrato é protegido por cláusula de confidencialidade. Reinará a
guerra de versões, de um lado e de outro. Em um país sério, a imagem
profissional de um consultor que expõe questões sigilosas do seu antigo cliente
é que deveria ser o escândalo. Não o suposto fato que ele trouxe à tona.
Aí
você liga no Globo Esporte e em vez de se deparar com uma matéria que estimule
os torcedores a comparecerem ao Maracanã neste domingo, é presenteado com um
Baú do Esporte relembrando o confronto entre Fluminense e Vasco pelo torneio
Rio-SP em 1999 que não ocorreu, vencido pelo Tricolor por W.O., em função de
uma confusão armada entre a FERJ e o clube da colina (a aliança vem de longe).
Há
uma clara intenção de pautar o clássico pelo extracampo, pelas reviravoltas de
bastidores, por infrutíferas discussões evocando o interesse público em torno
de um contrato entre dois entes privados, e não pelo futebol em si. Escalações,
esquemas táticos, expectativas para o jogo, esqueça. É preciso esvaziar o
clássico e te persuadir a ficar em casa, encorpando a audiência da Plim-Plim,
que já anuncia a transmissão do jogo.
No
momento em que redijo esse texto, sou informado de que a entrada da estrutura
metálica que daria suporte à exibição do mosaico 3D foi vetada pela polícia
militar. Enquanto isso, cambistas agem livremente no entorno do estádio, sem
qualquer repressão. O mosaico, no entanto, deverá ser realizado, apenas sem sua
parte tridimensional. O efeito com flashes de celular, que será imitado hoje
pela torcida mulamba, será outro atrativo.
Do
outro lado, vazio. Pouco mais de 1300 ingressos vendidos até agora. Um time na
vice-lanterna do campeonato será abandonado por sua torcida, que preferiu
eleger como prioritária a luta por um lado do estádio. Os poucos que
comparecerão já anunciaram que vão portar faixas de provocação ao Fluminense,
ao invés de incentivo à própria equipe. Até um inédito drone foi prometido.
Promessa de fiasco. Se já possuem dificuldade de conduzir uma caravela, que
deveria ser a especialidade da casa, imagina um artefato voador. Prevejo queda
do AeroRespeito. Quem sabe, antecipando uma nova queda do Nanico da Colina.
Em
caso de vitória tricolor, especialmente se obtida com doses amplas de suor e sofrimento,
não será difícil antever o teor da repercussão midiática: Fluminense vence, mas
não convence, mosaico prometido não sai a contento, clássico apresenta público
inferior ao do Flamengo, torcida tricolor imita jogo de luzes criado pela
torcida do Flamengo, polêmica do lado direito parece não ter fim.
Agora
imagine o quanto tudo isso soará ridículo e desviador de foco se encerrarmos a
rodada na liderança.
Já
imaginou? Não é difícil né? Afinal de contas você é torcedor do Fluminense e já
está vacinado. Mas esfrie a cabeça e vá torcer em paz. Apesar dos zé ruelas de
plantão, trata-se de futebol e não de guerra.
Por
Bruno Leonardo
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