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Luz do sol incide sobre a quinta estrela do mosaico tricolor. Prenúncio do Penta? (Foto: Bruno Haddad) |
Não se trata
de um texto lambe-feridas.
Quais feridas?
Olhemos para a tabela. Estamos em 3º, a dois pontos dos líderes. Eles se
encontram na zona de rebaixamento, fazendo contas frenéticas para vislumbrar
uma chance de salvação.
Somente quem
tem poucas perspectivas no campeonato transforma clássicos em um campeonato à
parte. Especialmente nos pontos corridos, onde cada jogo influi igualmente na
pontuação final. Vencer um clássico, com um abismo debaixo dos pés, é o
“título” que lhes resta.
Sim, é
preciso compreender que pelas circunstâncias, o time vascaíno jogaria com a
faca na bota, e o empenho tricolor se fazia absolutamente necessário. Raça não
faltou. Esse ingrediente, que vinha sendo o diferencial diante de outras
equipes, deixou de ser contra o Vasco, porque tivemos um adversário que nos
igualou em vontade ou mesmo nos superou. No final das contas, o que pesou na
balança foi o futebol. Eles jogaram melhor. Ontem o Vasco foi Fluminense em sua
fórmula de jogo: retraiu-se, explorou contra-ataques , fechou os espaços com
fôlego incansável e teve absurda taxa de aproveitamento nas poucas chances de
gol criadas.
Há quem
atribua a derrota a mosaicos, festa, um suposto clima de oba-oba. Jogo de
palavras. Vi muitos tricolores com confiança na vitória, mas sem tratá-la como
favas contadas. Torcida sem festa e sem otimismo tem qual serventia? Seria uma
reunião de mortos-vivos, praticantes de uma estranha crença de que alegria e
autoconfiança atraem derrotas.
O Fluminense
encontrou uma arapuca desde o início do jogo e dela não se mostrou capaz de
sair em nenhum momento. Sabendo que a força do nosso jogo se inicia na boa
saída de bola dos volantes Edson e Jean, Celso Roth adiantou a marcação
vascaína, bloqueou o passe da dupla tricolor e deixou a saída de bola com quem menos
se sente confortável neste tipo de missão: nossa dupla de zagueiros. O que se viu a
partir daí foi uma profusão de ligações diretas em busca de Fred, sempre muito
bem marcado e admoestado por Rodrigo, com quem travou um duelo particular.
À guisa de
culpados para aplacar a frustração pela derrota, vi muitos torcedores colocarem
os gols na conta de Cavalieri. Um conhecido vascaíno me dizia que John Cley
quando chega à linha de fundo costuma cruzar rasteiro. E provavelmente teria
sido mais um cruzamento por baixo não tivesse a bola desviado no pé de Antônio
Carlos e a um só tempo traído Cavalieri, a quem bola teria como destino, e Gum,
que acabou encoberto pela mesma, para ver Andrezinho completar de cabeça. No
lance do segundo gol cruzmaltino, um efeito de curva muito louco tirou a bola
do alcance de Cavalieri, em um chute que tinha tudo para ir no meio do gol e
dar em nada.
A saída de
Giovanni, após entrada dura de Herrera, expôs uma das escolhas de Enderson que
carecem de explicação. Não contávamos com um lateral de ofício no banco, mesmo
tendo Breno Lopes à disposição no elenco. Giovanni deu lugar a Osvaldo e
Gustavo Scarpa mais uma vez foi deslocado para a lateral. Perdemos com isso um
ponto de articulação no meio de campo para dar lugar a um velocista que entrou
bem no jogo. Mas nossa incapacidade de reter a bola na frente e controlar
minimamente o jogo se agravou. Erro que Enderson só foi tentar reparar tardiamente, com a entrada de Higor. Contudo, o gol de empate saiu logo aos 13 em belo gol de
Marcos Jr, após passe de Gerson.
Gerson
merecerá um texto à parte do nosso Eduardo Kabessa. Corre para não chegar na
bola, divide para não ganhar, tem chute de peteleco, se atrapalha com a marcação.
Entre um erro irritante e outro, descola boas assistências, que no entanto não
o salvam de atuações medrosas, típicas de quem se esconde do jogo. Enquanto
você vê um jogador como Marcos Jr. pedindo bola o tempo todo e se deslocando
para recebê-la, Gerson se esconde na ponta-direita, atrás da marcação. É um
garoto, vai oscilar, a responsabilidade o assusta, está com a cabeça no
Barcelona, não importa. Nessa equação toda quem não pode sair prejudicado é o
Fluminense. Sua titularidade prejudica o time.
Que Gerson em breve gaste tanto a bola a ponto de tornar minhas críticas ridículas. É o que
mais desejo. Enderson parece confiar demasiadamente em seu futebol. Só foi
substituí-lo aos 35 da etapa final, por Magno Alves, que nada acrescentou e
entrou numa função que não é a sua. A falta de opções para o meio de campo
ficou evidente ontem, agravada pelo deslocamento de Gustavo Scarpa à lateral. A
entrada de R10 no time e o retorno de Vinicius darão um reforço técnico
fundamental ao meio de campo, mas levarão algum tempo. Até lá cabe a Enderson
encontrar alternativas que minimizem as carêncais e manter o espírito de competitividade
do time em alta.
Ontem, ao
final do jogo, dando inclusive patada em repórter, Fred mostrava visível contrariedade
com a derrota. Marcos Júnior pedia desculpas à torcida em seu perfil oficial no
Instagram. A derrota não foi digerida como fato normal. Machucou, irritou, mas
não deixou um rastro de abatimento. Uma postura que em muito me lembrou aquela
observada após a derrota para o Atlético-MG no independência, em 2012. Um
orgulho ferido de quem perdeu a batalha, mas demonstra gana de ganhar a guerra.
Que em
Chapecó o Tricolor vire a página. Terá uma semana infinita para isso. Nessas
horas, os jogos de meio de semana fazem falta. Estamos mais do que vivos,
apesar dos castigos, apesar dos perigos. Permitam-me o apego a uma imagem que
doravante cultivo como um sinal: na foto que ilustra essa crônica, um feixe de
luz solar incide justamente sobre a quinta estrela do mosaico. É você, João de
Deus?
TIRO LIVRE:
- A derrota
não foi trágica em termos de pontuação porque Grêmio e Atlético-MG também
perderam. O campeonato não aponta um franco favorito pronto a se desgarrar na
tabela. Neste ritmo de perde-ganha, o campeão poderá ficar naquela pontuação
histórica na casa dos 73 pontos. Não seria nada mal terminar o 1º turno com 36
pontos, e com time reforçado, partir com tudo para o returno. Três vitórias nos
próximos cinco jogos, Fluminense. Vai que dá.
- Marcos
Júnior é caçado em todos os jogos e sofre as faltas mais duras pelo Fluminense.
No entanto, tem demonstrado maturidade ao se levantar, focar no jogo, e deixar
brigas de lado. Nosso capitão demonstra certa previsibilidade ao perder a
concentração com provocações de jogadores fracassados como Rodrigo. E ainda
transfere sua frustração ao repórter na saída de jogo. Deu munição para ser
vilanizado pela imprensa, cujo corporativismo é conhecido. Foca no penta,
capitão!
Por Bruno Leonardo
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