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Fred e companheiros comemoram o primeiro gol tricolor na Arena da Baixada (Foto: Nelson Perez/ Divulgação FFC) |
“Não faço essa projeção de título. Temos
oito, nove ou dez bons candidatos para conquistar o Campeonato Brasileiro. É
diferente do que qualquer país no mundo. Sem dúvida nenhuma, o Fluminense
arranca em 2015 sem pleitear a conquista de título e sem ser favorito por
questões das mais diversas”.
Com essa declaração, proferida há pouco
mais de 2 meses, Ricardo Drubscky acendeu a indignação de muitos torcedores do
Fluminense, que a interpretaram como reflexo de um clube que se encaminhava
para um processo de apequenamento. Curiosamente, nessa mesma época, o
Fluminense iniciava as conversas com o craque Ronaldinho Gaúcho e seu irmão
Assis. Contratação que vem no bojo de um pequeno pacote, que ainda inclui o
atacante Osvaldo, o centroavante Wellington Paulista e possivelmente, o retorno
do meia Marquinhos às Laranjeiras, cuja situação deve se definir nesta semana.
Manhoso esse Fluminense. A falta de
iniciativa em corrigir enfaticamente as declarações pouco ambiciosas de
Drubscky, vendo agora, pelo retrovisor, soa como uma tática para fugir do
centro das atenções, costurar em silêncio a contratação de alguns reforços e
deixar para os palpiteiros da grande a mídia a tarefa de eleger seus
“favoritaços” ao título. Além do Galo monotítulo, o mais novo favoritaço é o
Porco de 5 elencos turbinado agora por um treinador de verdade.
Acontece que ninguém contrata Ronaldinho Gaúcho com o
objetivo de ser coadjuvante no campeonato. Ainda mais quando se sabe que ele
chega para ser o municiador do melhor centroavante do país. O Fluminense dá sinais de que sim, pensa
grande. E de que almeja o título. Eu sou um tricolor de 4 décadas. E
humildemente reconheço que, apesar de acompanhar este clube há tanto tempo,
ele ainda aplica chapéus de Deco e Ronaldinho nos meus prognósticos.
Não só nos meus, mas de toda a imprensa.
Ontem, contra o Atlético-PR, em plena Arena da Baixada, aplicou mais um. Esses jogos na Arena são daqueles que, nas mesas redondas
da tv, os comentaristas sempre palpitam vitória do Furacão. O retrospecto deste
Brasileirão apontava 5 vitórias e um empate para o time paranaense em seus domínios. Mas contra o Tricolor, o tempo
abranda e o Furacão se converte em brisa. Nos últimos 10 jogos disputados
contra o rubro-negro, foram 7 vitórias tricolores e 3 empates. Arena
para nós não é tabu, é salão de festas do Flu. Lembram do ano passado? Aplicamos
um baile: 3x0 e a melhor atuação tática dos últimos tempos.
O Fluminense de 2015, ao contrário do elenco
mais encorpado do ano passado, atua de uma forma mais operária. Novamente a disposição
canina na marcação foi regra. Edson, como bem assinalado pelo nosso colunista
Eduardo Kabessa, roubou 12 bolas ao longo da partida. Um fenômeno. Fred foi
visto auxiliando Wellington Silva na marcação lateral direita. Rafinha não deu
a mesma qualidade na saída de bola que Jean, mas foi eficaz na proteção à zaga
ao lado do Pedreiro. E Marcos Júnior é a peça onipresente do time. Abre pelos
lados nos contra-ataques, volta pra recompor a defesa e roubar bola, ora atua
pela faixa central para dar opção de passe ou distribuir jogo, ora está na
lateral marcando atacante adversário. É o elemento que preenche os vazios
quando nossa postura excessivamente recuada deixa um vão entre as linhas do
time.
Foi inclusive de uma bola espirrada em
dividida de Marcos Jr com um meia do Atlético-PR que nasceu o primeiro gol
tricolor. A bola sobra para Fred que, com a visão de jogo de um autêntico
camisa 10, põe Gustavo Scarpa na cara do gol e este, com calma e categoria, abre
o placar. O gol desarticulou momentaneamente a equipe da casa, até que Walter,
enfrentando a marcação dobrada de Renato e Gum, pôs a bola na cabeça de
Sidcley no 2º pau, em grande lance. Gol de empate do Atlético-PR. O lance me
fez lembrar imediatamente do gol que tomamos do Santos no Maracanã, marcação
dobrada de Giovanni e Antônio Carlos em cima de Gabigol, chegada posterior de
Edson, e quando a bola é cruzada na área, apenas Wellington Silva aparece para
dividir com Ricardo Oliveira e acaba se enroscando com Cavalieri. Eis uma falha
defensiva que Enderson precisa corrigir: a marcação deficiente dos laterais têm
obrigado os zagueiros tricolores a saírem da área em auxílio e a despovoarem a
área. Quando a bola é alçada do lado oposto, o lateral que fecha em cima do
atacante tem falhado. Ou se mata a jogada antes da bola ser alçada ou é melhor o
zagueiro do respectivo lado ficar na área para cortar o lance.
Eu achei que a mão do destino começou a entra
em ação quando o gorducho sapeca acusou dores na coxa e pediu para sair. Num
jogo parelho, complicado, o adversário perdia um fator de desequilíbrio e nós
mantínhamos o nosso, o artilheiro da camisa 9. Quando vi o auxiliar Luís
Alberto substituir Rafinha, machucado, por Marlon, considerei aquilo uma
sinalização de que o Fluminense estaria satisfeito em sair da Arena com um
empate. O retorno à postura excessivamente recuada, acentuava ainda mais a
impressão de que o Fluminense abdicava da vitória. Mesmo sem Walter, a Brisa do
Paraná veio para cima na tentativa de fazer jus ao apelido de Furacão. Anderson
Daronco, o árbitro anabolizado, assinalava 6 minutos de acréscimo. Na mesa do
Bar dos Guerreiros, minha elétrica amiga Gabi, proferia impropérios os mais
cabeludos contra o rapaz bombadão. E eu dizia: “Sossega, Gabi. Seis minutos
valem para os 2 lados. É mais tempo para o Flu buscar o 2º gol”.
A essa altura eu já tinha aprendido, como
dissera lá no início do texto, que o Fluminense gosta de dar chapéu nas nossas
expectativas. O time que parecia conformado com o empate estava, na verdade, entricheirado
para aplicar o bote fatal. Quando Gustavo Scarpa, grata e decisiva surpresa,
recebeu a bola pelo setor direito de ataque e viu Renato passar no corredor
aberto, o Fluminense deu um show de sincronismo. A bola é mansamente rolada
para Renato, que domina e cruza milimetricamente na cabeça de Fred, estufar as
redes de peixinho: 2x1. Mas tivemos uma dose de suspense: o narrador do canal por assinatura ainda demorou a gritar gol. A câmera fechou sobre Fred fazendo uma cara feia, que fui saber posteriormente que se tratava de uma dor no ombro. Na hora pareceu uma lamentação pelo gol supostamente anulado. Em seguida, a confirmação do gol. Alívio e êxtase no Bar dos Guerreiros, que naquele momento reproduzia as arquibancadas de Maracanã. Até para comemorar gol do Fluminense anda sofrido!
O Fluminense amigo íntimo do último lance,
do apagar das luzes, o Fluminense que luta até o fim, como se o fim fosse uma
porção de tempo longa o suficiente para abrigar uma vitória santa, está de
volta. Não havia sido assim com Assis em 83? Com o inexplicável gol de barriga
do Renato em 95? Com o gol de Washington contra o São Paulo na Libertadores de
2008? Com o gol de Samuel contra o Bahia em Salvador, que só se revelou salvador
dias depois?
Chamem de fé, de capricho dos deuses, ou de
Gravatinha. O Fluminense joga com onze em campo e alguma coisa entre o céu e as
Laranjeiras. Tem Fred e agora tem R10. Está oficialmente decretada a busca pelo
Penta. Se ele virá ou não, só o tempo vai revelar. Mas o orgulho de ser
tricolor está nas alturas. Assim como o medo da torcida monotítulo de Minas
Gerais, que nas redes sociais já faz chorume preventivo e levanta teses mil de
conspiração, mesmo tendo a seu favor um timaço. Que medo que você impõe,
Fluminense!
TIRO LIVRE:
- O
Fluminense construiu esta campanha sem dispor de munição completa. No segundo
turno, com a recuperação de Vinicius e Robert, a chegada de R10 e Osvaldo, o
Fluminense terá ainda mais alternativas de jogo. Se acertarmos o retorno de Marquinhos
e Wellington Paulista calibrar a pontaria ao substituir Fred, o Tricolor
desponta sim como um dos favoritos ao título. Mas o campeonato é longo e manter
esse favoritismo até o fim é nosso grande desafio.
- É chover no molhado falar que é nossa
obrigação lotar o Maracanã no próximo domingo. Partida simbólica, que opõe um
clube que tenta crescer por méritos próprios a outro cujo presidente só vê
possibilidade de crescimento na trapaça, na intriga dos arbitrais da federação,
na tentativa de pisar sobre os rivais. Não por acaso, essa partida opõe o
vice-líder do campeonato ao vice-lanterna. Quem espera e trabalha, sempre
alcança. Quem trapaceia, cava a própria cova, sem lado direito, sem Ronaldinho
Gaúcho, sem respeito.
Por Bruno Leonardo
Por Bruno Leonardo
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