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Ronaldinho posa ao lado de seus ex-companheiros de clube do Atlético-MG (Reproduçao globoesporte.com) |
A gente lamenta a derrota, mas olhando atentamente as peças do xadrez, não tinha como dar um resultado muito diferente.
Contra um
time intenso e dinâmico como o Atlético-MG poderia dar certo uma escalação com
o pesado Wellington Paulista de centroavante? Uma linha de meias talentosos mas
pouco combativos na marcação e lentos como Ronaldinho e Cícero?
E quando você
olha para o lado direito do adversário, com Luan e Marcos Rocha, convém mesmo
continuar escalando o frágil Victor Oliveira? Deu certo contra o Paysandu, mas
o Galo é adversário de outro nível.
A diferença
entre as equipes foi constrangedora, especialmente no 1º tempo. Em certos
momentos, o Atlético trocava passes com tal facilidade que o time do Fluminense
parecia estar numa roda de bobinho. O Atlético adiantou suas linhas e se
plantou no nosso campo. Seus zagueiros, muitas da vezes, jogavam na linha do
meio de campo. O Galo atuava como se o Maracanã fosse sua casa.
Nossa única
saída era com Scarpa, que se posicionava nas costas de Marcos Rocha, e
produzia algum incômodo. A rigor, nossa única real chance de gol na etapa inicial veio de uma
boa jogada do jovem meia-esquerda, em bola cruzada com açúcar para Wellington Paulista,
que desperdiçou cabeceando para fora.
O domínio
atleticano era mais territorial do que baseado em chances efetivas de gol, até que
ele surgiu, aos 22', numa jogada em que Lucas Pratto atraiu a marcação de 4 defensores tricolores, abrindo
um clarão no meio da área pelo qual Giovanni Augusto entrou para receber lançamento
preciso de Luan e escorar de cabeça para o fundo das redes. Detalhe para a
corrida atrasada de Jean atrás do autor do gol.
O 1º tempo
registrou risíveis 39% de bola para o Flu e 61% de posse para o Atlético.
Na volta do
intervalo, Enderson tentou consertar sua escalação inicial, mas foi se afundando
numa sucessão de novos erros. Sacou Victor Oliveira, fez o previsível
deslocamento de Scarpa para a lateral e pôs Gerson na ponta-direita. Com essa
mudança, deslocou Wellington Paulista para a ponta-esquerda, posicionou Cícero
pelo centro e inventou Ronaldinho de falso 9. Um festival de jogadores atuando
fora de posição. Felizmente o empate veio logo cedo, mas talvez não por
coincidência, o gol saiu do lançamento de Gum, um zagueiro.
Apesar do
gol, o Frankenstein em forma de time criado por Enderson não deu liga. Somente
aos 22 minutos, nosso treineiro desfez o equívoco que era R10 de centroavante,
para colocar Magno Alves, e pela primeira vez o Dentuço saiu sob vaias. Com
Cícero apagado na criação, a arquibancada começou a clamar por Vinicius. Aos 36, Enderson
resolveu atender aos anseios da torcida, mas em vez de trocar um meia por
outro, o professor Pardal sacou o lateral Renato! E com um toque extra de
jumência: em vez de deslocar Jean para a lateral direita, que seria a
improvisação de praxe, Enderson deslocou Edson, nosso volante mais efetivo na
marcação, e recuou Cícero.
Levir Culpi
percebeu o desmonte defensivo do Flu, a falta de recomposição defensiva de
Gustavo Scarpa, e trocou o cansado Luan por Patric. E a mudança se mostrou
acertada. De uma tabela entre os dois laterais direitos do Atlético, Marcos
Rocha e Patric, fazendo um 2-1 sobre Marlon, saiu o gol da vitória dos
mineiros. Um balde de água fria num jogo que estava em aberto e no qual faltou competência
para o Flu liquidar.
Fluminense e
Atlético-MG chegaram ao segundo turno em condições muito opostas. Enquanto o
Fluminense se vê às voltas com fraturas, problemas musculares e lombalgias, o
Atlético pôde contar com força máxima. Levir Culpi disse antes da partida à repórter
de campo que seu time havia alcançado a plenitude da capacidade física. E o que
tem a dizer a preparação física do Fluminense, com as lesões musculares de
Fred, Osvaldo e Wellington Silva? E os 10 dias de recondicionamento físico do
Ronaldinho enquanto ele esteve ausente do time? Surtiram algum efeito? São detalhes
que fazem ganhar ou perder campeonatos.
Com os 13 pontos que nos separam agora do líder do campeonato, o título virou pó. A luta
por uma vaga na Libertadores ainda é, sob o ponto de vista matemático,
totalmente possível. Mas o desempenho do Fluminense está em viés acelerado de baixa. São 6
derrotas nos últimos 8 jogos, ritmo de pontuação de zona de rebaixamento. Os
desfalques atrapalham, há lacunas em algumas posições, mas não faltam peças
interessantes para se tentar um caminho diferente. Falta técnico e falta trabalho. Na
véspera do próximo jogo, rachão não vai faltar.
Por fim,
permitam um desabafo.
Após o
encerramento da partida, Ronaldinho foi ao vestiário do Atlético-MG
confraternizar com seus ex-colegas de clube, levou algumas camisas do Fluminense e posou para algumas fotos com
eles, que foram imediatamente postadas nas redes sociais. Não há nada de
criminoso nisso (o gesto é até corriqueiro no futebol), mas revela uma profunda incapacidade de se colocar no lugar do
torcedor, que deseja uma satisfação para a queda livre da equipe. No lugar de um pedido de desculpas
pela atuação indigente e constrangedora que teve na partida, ou de demonstrar
algum abatimento pelo revés sofrido pela equipe, sua atitude de procurar o
vestiário adversário sinaliza um descolamento da realidade, de quem vive numa
bolha e não entendeu ainda onde está jogando, ou as expectativas que está
frustrando.
Atitude que o
faz se assemelhar a Alexandre Pato, outro notório alienado.
Cai na real,
dentuço. Por enquanto, você está apenas roubando o Fluminense! E já deve ter gente no grupo achando
que, bom, se você é titular assim, sem merecimento, não há mais razão para
correr.
Tiro Livre:
- Wellington Paulista faz o gol e corre abraçar Mário Bittencourt na mureta da arquibancada, como se fosse companheiro de time. Esse estilo Vice de Futebol amigão dos boleiros funciona quando o esporro precisa ser dado no vestiário? Dá pra virar a chave?
- Público pagante de 17.186 e público total de 20.553 pessoas. Outro público pífio numa fase crucial do campeonato e que faz do Maracanã um estádio quase neutro. Já passou da hora de rever a atual precificação dos ingressos, mas a diretoria parece pouco interessada em mudá-la. Parece satisfeita com o fracasso.
- Pela primeira vez perdemos uma partida com nosso novo uniforme número 1, a camisa verde. A camisa tricolor parece abolida das tradições tricolores. A descaracterização do Fluminense segue a todo vapor.
Por Bruno Leonardo
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