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Escudo do Fluminense emerge das arquibancadas do Maracanã (Foto: Divulgação FFC/Bruno Haddad) |
Peço licença
ao meu leitor para fazer uma coluna um pouco diferente hoje.
Ainda não
dispus de tempo e cabeça suficientemente fria para analisar a partida entre Fluminense
e Grêmio em detalhes.
Não sou muito
de amolar vocês com detalhes da minha vida pessoal, mas desta vez torna-se impossível
omitir o fato de que ontem, enquanto eu me preparava para ir ao Maracanã, meu pai se
refazia de uma cirurgia de transplante de rim pela qual acabara de passar. E me pus a pensar
de como a vida é generosa conosco, oferecendo sempre uma segunda chance.
No momento em
que redijo esse texto, ainda não realizei a visita ao CTI onde meu pai se
recupera, o que farei em algumas minutos. Sei apenas que ele passa bem e logo
mais terei a oportunidade de receber dos médicos um parecer mais detalhado. Meu
pai ganhou da vida, assim esperamos, uma segunda chance de vivê-la em plenitude,
sem a rotina dura das diálises peritoneanas, realizadas em casa.
Segunda
chance que nosso ídolo eterno Assis não teve, vítima de uma peritonite
decorrente desta mesma modalidade de diálise. Nem o doador do órgão, colhido da vida terrena aos 17 anos, e a quem dirigimos nossas preces e gratidão.
Eu, que tive
uma discussão feia com o Seu Gustavo dias antes da cirurgia, ganhei da vida a
oportunidade de lhe pedir perdão e dar-lhe um novo abraço. Tenho consciência que naquele momento fui um
mau filho, para ser generoso comigo mesmo. Terei uma segunda chance de ser um
filho digno.
Já instalado
na arquibancada, minha cabeça girou dividida entre o mundo real, das coisas que
de fato importam, e o mundo de fantasia em que o Fluminense me põe. E ambos os
mundos negociavam espaço dentro de mim com absoluta sutileza, como se entendessem
que eu precisava de um pouco de paz.
No momento em
que Marcos Júnior fez o gol com frieza para driblar o goleiro e nos oferecer o
alívio que todos esperávamos, o choro veio, sem culpa. O pequenino marrento da
camisa 35 também ganhou do futebol uma segunda chance de brilhar. Esteve
emprestado ao Vitória, numa passagem apagada, que culminou com o descenso para
a segunda divisão. Seu gol foi mais um coroamento de sua transpiração e
talento.
E resultou de
uma escorada providencial de cabeça de Wellington Paulista, em lance de pura
centroavância. Wellington Paulista, que estava esquecido no modesto Criciúma,
tem uma nova chance de brilhar por um clube grande. Do alto de seus quase 260 gols
na carreira, será muito útil, na trombada ou no talento.
Vale lembrar
que a jogada do gol se iniciou com um lançamento de Ronaldinho, aquele que não
aguentaria os noventa minutos. Aquele que o jornalismo mesquinho, pobre de
espírito, reduz a um suposto porquinho que não toma banho. O mesmo que estava apenas adiando sua aposentadoria. Segundas chances,
vocês sabem, não se definem pela contagem. Esta é apenas uma nova segunda
chance que o gênio recebeu para calar as línguas apressadas, ferinas.
Não tenhamos Peninha dessa gente mau caráter,
que de extraordinário tem apenas o dom de externar a miséria que lhes é íntima.
Cabe ao Fluminense resgatá-los de sua própria pequenez, convertendo a
maledicência em admiração.
O mosaico,
minha gente, suspeito em primeiro grau de ter sido o culpado pela derrota para a
caravela náufraga, também ganhou sua segunda chance. E provou que não joga
contra o Fluminense e nem contra o foco dos jogadores. O mosaico em três
dimensões, que fez nosso distintivo emergir imponente das entranhas da própria
torcida, ganhou a segunda chance de ser montado.
Gerson,
novamente em jornada de pouca inspiração, recebeu as vaias da torcida ao ser
substituído. Nosso olhar crítico sobre seu desempenho não pode ir ao ponto da
execração pública. Nesta jornada rumo ao penta vamos precisar de todo mundo.
Que ele também receba, dessa torcida que sabe ser generosa como ninguém, uma
segunda chance.
O Fluminense
será sempre mais forte quanto mais unido estiver, em todas as suas instâncias.
Tive a oportunidade de me reconciliar com alguns expoentes da torcida com quem
tempos atrás me desentendi, cegado pelas minhas convicções, que falhei em
colocar muito abaixo do meu amor pelo Fluminense. O amor ao Tricolor que nos
une me proporcionou uma segunda chance de diálogo.
Chego ao
trecho final deste texto com a confirmação da derrota do Palmeiras, o que
significa que o Fluminense recebeu uma segunda chance de voltar ao G4 e dele
não mais sair.
E se você que
está me lendo precisa pedir perdão, se reconciliar com um amigo, ou dizer a uma
pessoa querida o quanto a ama e reconhecer que pisou na bola, não perca seu tempo. Pode não
haver uma segunda chance, ou ela pode demorar muito mais do que você gostaria. Não economize amor. É a economia mais tola que existe.
Eu me despeço
de vocês para ir visitar meu pai. Preciso ouvir a notícia que vai deixar meu
domingo reluzente.
Fiquem com
Deus.
Por Bruno Leonardo
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