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Scarpa comemora seu belo gol na vitória por 2x0 sobre o Goiás no Maracanã (Imagem: Daniel Zappe) |
E ela veio,
finalmente.
A primeira
vitória em nove jogos, ou no espaço de tempo de um mês. Poder ficar esparramado
no sofá e se divertir com o drama alheio no complemento da rodada, logo após
ter feito o dever de casa, é uma sensação ótima, e que andava esquecida.
Novamente não
fizemos um bom jogo. E como já havia comentado na publicação anterior, a missão de
Eduardo Batista é retomar a competitividade desta equipe. O futebol bonito e
bem jogado é obra de um somatório de fatores que no presente momento não
reunimos. Na ausência dele, portanto, organização e guerreiragem.
E nosso comandante
parece ter compreendido que esta é a fórmula. Novamente, a consistência
defensiva foi a base do edifício. Comparando números de partidas recentes, a
evolução é nítida. No fatídico 4x1 que tomamos do Palmeiras, e que determinou a
queda de Enderson, anotamos 7 desarmes. Ontem contra o Goiás registramos 22,
pouco mais que o triplo.
Relevante assinalar
que destes 22 desarmes, apenas 2 foram de zagueiros. 10 foram dos volantes Pierre
e Cícero (5 para cada) e os outros 10 distribuídos pelo restante da equipe. Possivelmente
um indicativo de que a marcação anda mais solidária do que antes, e expondo
menos os zagueiros.
Não que
tenhamos ficado isento de sustos. Marlon, especialmente no primeiro tempo,
distribuiu algumas pixotadas estranhas ao seu futebol habitual, e por pouco não
fizeram a feijoada azedar. Por sorte, Gum estava em uma jornada inspirada e
corrigiu algumas dessas falhas, de tal forma que Gum teve uma noite de Marlon e
Marlon teve uma noite de Gum, à semelhança desses filmes imaginativos em que
duas pessoas trocam de corpos.
Do meio para
a frente, a costumeira dificuldade em produzir volume de jogo e criar jogadas
de gol. Novamente peço licença para recorrer aos números. Em que pese a fragilidade
técnica de sua equipe, o Goiás encerrou a partida com posse de bola
ligeiramente maior: 50,15%. Porém o dado mais preocupante é que o time
visitante registrou o dobro de finalizações a gol (12 contra 6).
Nessa
brincadeira de evitar gols e produzir pouco na frente, o Fluminense nem sempre
se dará bem. É apostar na tática de colher o máximo fazendo o mínimo, e que num
dia de azar ou menor precisão nas conclusões, poderá custar caro. Uma parte da
explicação para isso está na escalação inicial, na qual Eduardo Batista acertou
com uma mão e errou com a outra.
Acertou em
cheio ao escalar Cícero novamente de segundo volante, justamente uma posição na
qual é impossível vestir a capa da invisibilidade que nosso camisa 11 gosta de
vestir às vezes. Ali, ou o indivíduo se mostra participativo e atento, ou vai
para o banco mais cedo. E, como estou abraçado com as estatísticas hoje, vamos a
mais uma: ninguém produziu mais passes do que Cícero: 65 ao todo, sendo 61
certos. E com boa dose de verticalidade, diga-se, em que pese a movimentação/posicionamento dos companheiros nem sempre ter contribuído.
O jogo sempre
passa muito pelos volantes. A maior prova de disso é que nosso maior passador
no campeonato é o Edson (880 passes), seguido de Jean (857). Como Pierre é um dedicado
cão de guarda na contenção, mas extremamente limitado em termos de passe,
Cícero se viu obrigado a recuar muito para dar qualidade à saída de bola,
comprometendo em parte a aproximação com os meias.
E aí entra a
parte na qual Eduardo Batista errou de forma cristalina. Se o recuo de Cícero
para buscar jogo já não era bom, ficou ainda pior pelo fato de que Ronaldinho,
por escolha própria ou por orientação, não oferecia opção de passe, ficando espetado
na entrada da área. Era visível a dificuldade de Cícero para entregar a bola,
com Scarpa e Gerson muito abertos e R10 posicionado atrás dos volantes, enquanto
o Goiás nos esperava em seu campo com linhas de marcação muito próximas.
O resultado
não poderia ser outro: Ronaldinho sumiu por completo do jogo e o Fluminense
teve dificuldade de criar. Desta forma o gol só poderia ser achado, jamais
construído. E ele veio justamente na única contribuição efetiva do Dentuço no
jogo: uma cobrança de falta rápida, pegando a defesa do Goiás desmontada, que
contou com cruzamento preciso de Léo Pelé e conclusão oportunista de Fred.
Baptista
resolveu então sacar Ronaldinho no intervalo, poupando-o do dissabor de ser
substituído em campo e ouvir vaias estrepitosas. Voltamos para o 2º tempo com
Marcos Júnior e um Fred mais disposto a sair da área para buscar tabelas. Com
isso, recuperamos alguma mobilidade e compactação no meio de campo e o gol não
tardou a surgir: numa cobrança de lateral despretensiosa, Fred, quase caído,
mete uma puxeta providencial na esquerda para Scarpa e o que se sucedeu foi uma
pintura, um golaço, uma jogada de rara felicidade do Chutavinho que me deixou
com vontade de voltar à bilheteria e pagar outro ingresso.
A cada gol ou
bela jogada, Scarpa parece se surpreender com o próprio potencial
recém-descoberto. Ao contrário dos craques que crêem não ser necessário correr
por terem talento, Scarpa parece acreditar que é preciso correr primeiro para
que o talento desabroche depois.
A torcida
reconheceu isso e gritou seu nome efusivamente na hora da substituição.
E aí
novamente a balança de Eduardo Baptista volta a se equilibra entre erros e
acertos: as substituições de Scarpa por Wellington Paulista e Gerson por
Osvaldo desmontaram o time. Os dois deram uma demonstração que a ineficiência
pode se travestir com diferentes estilos: com correria ou com pouca
movimentação. À infelicidade nas substituições somou-se o cansaço do time. Só
conseguimos atuar por 70 minutos e depois morremos. O treinador do Goiás
percebeu isso, sacou o volante Rodrigo e colocou o atacante Lineker, para
esboçar uma pressão. O Goiás foi pra cima, chegou a meter bola na trave em
cobrança de falta, mas ficou nisso. Os três pontos eram nossos.
Nas arquibancadas,
a torcida tricolor, já ébria dos eflúvios da vitória, asseverava sem pudor: “é
guerra, é guerra, quarta-feira é guerra”, em alusão a outra frente de batalha, a Copa do Brasil. Está dado o recado. Que na Arena do
Grêmio, o Fluminense encarne o exército de 300 homens do general Leônidas e possa
triunfar sobre as hostes separatistas do sul, com o clássico grito de guerra: “Isso
é Scarpa”. Perdoem o trocadilho.
Tiro Livre:
Por Bruno Leonardo
VALEU PELA LEMBRANÇA.
ResponderExcluirConsiderando o jogo, o resultado foi bom. O Fluminense escolheu jogar com o Pierre e com o Cícero na contenção. o Cícero se posiciona pra sair jogando, se apresenta para receber e volta rapidamente, procurando não deixar espaços no setor. Diferente, o Pierre é um "botineiro", faz muitas faltas e poderia ter siso expulso. O "Professor" deve repensar um outro jogador para o lugar do Pierre.
ResponderExcluirRonaldinho ficou perdido no jogo.
Uma coisa que chama a atenção, são as substituições. Sempre Osvaldo, Marcos Jr, W.Paulista... Por quê não, o Higor? O William?
Precisando de contra-ataque, o "Professor" abre o time.
Ainda estamos longe do ideal e pra vencer o Grêmio lá, vamos ter que melhorar a saída rápida para tentar o gol.
Concordo plenamente, Ricardo. Apesar da queda de rendimento recente, sou a favor da volta do Edson ao time, uma vez que ele tem um passe superior ao do Pierre e pára as jogadas com menos faltas.
ExcluirQuanto às substituições, não faz sentido colocar Wellington Paulista para fazer lado de campo, ainda mais para jogar 15, 20 minutos de jogo. Nessas condições, Magno Alves ou Lucas Gomes fazem melhor. Aliás, como você bem citou, além de Wiiliam e Higor, Vinicius é outro que parece preterido pelo clube. Tem algo estranho.
O contra-ataque hoje contra o Grêmio deve melhorar com a volta do Marcos Jr à titularidade. Mas também é preciso compactar melhor as linhas e sobretudo marcar mais adiantado. Roubar bolas perto da própria área te obriga a percorrer uma faixa de campo bem maior do que roubando na intermediária adversária, por exemplo.
Saudações tricolores!