Fred comemora com lágrimas seu gol contra o Palmeiras pela Copa do Brasil (Foto: Rodrigo Gazzanel/ Agência Estado) |
Durante a disputa de pênaltis que decidia o confronto entre Fluminense e Palmeiras por uma vaga na final da Copa do Brasil, o tricolor Flávio Gusmão de Figueiredo Mendes, carioca de 51 anos, sofria um infarto. Um outro tricolor, médico de profissão, prestou os primeiros socorros. A polícia foi chamada a intervir, mas demorou para se aproximar, conferir a situação e chamar o atendimento. Quando este chegou, outro espetáculo deprimente de despreparo: os bombeiros chegaram sem maca e não sabiam onde encontrá-la. Entre o mal-estar de Flávio e seu traslado em um maca de madeira até o ambulatório, decorreram-se 30 minutos!!!
A vida vale cada vez menos no Brasil. A de um torcedor de
futebol, menos ainda.
A de um torcedor de futebol visitante então....esta está
na encruzilhada entre o despreparo, o desprezo e o descaso. Flávio não está
mais entre nós. Aos familiares, toda a força do mundo para suportar a terrível
perda. Só eles têm a dimensão exata desta dor. Que o Pai amantíssimo o receba
de braços abertos.
Vamos ao contexto do jogo.
Valeu tudo para que o Palmeiras se classificasse. Valeu o
pênalti inventado por Vuaden na partida de ida. Valeu o pênalti inventado por
Daronco no Allianz Parque, uma falta cometida fora da área. Valeu negar ao
Fluminense a cobrança de um escanteio no final da partida, antes de encerrados
os 4 minutos de acréscimo. Valeu passar por cima do regulamento que previa
disponibilidade de 10% da carga total de ingressos para os visitantes.
Mas não foi só isso.
Valeu o indeferimento do nosso recurso junto ao STJD.
Vivemos tempos tão nebulosos que a procuradoria do órgão toma a iniciativa de
denunciar Fred pelo chute desferido contra uma lixeira, mas faz vista grossa à
atitude abusiva da diretoria palmeirense para com os torcedores tricolores. Quem
ainda acredita na neutralidade deste sistema precisa de suprimentos diários de
alfafa.
Nas redes sociais, a barbárie grassava como jamais vista.
Vinicius sofreu ameaça de morte, extensiva à sua família, por um marginal
travestido de torcedor do Palmeiras, que à moda típica dos covardes, deletou
posteriormente sua ameaça. O cronista Fagner Torres, do Blog Laranjeiras (ESPN
FC), também recebeu, via Facebook, ameaças de morte por parte de torcedores (ou
bandidos?) palmeirenses. Estes incautos responderão sob a forma da lei, posto
que o cronista já tomou as devidas providências legais.
Fagner é um cara tão brioso e consciente de seus direitos
que eu sinto muito mais pena desses detratores babacas do que dele. Mas é
revoltante que alguém sofra perseguição tão sórdida pelo simples exercício
equilibrado da liberdade de expressão.
Era para ser apenas uma bela e disputada partida de
futebol. Mas quando se brada por aí que tal dia ou tal jogo é guerra, há quem
leve ao pé da letra. Mesmo na guerra há regras e uma certa ética a ser
obedecida. Neste embate entre Fluminense e Palmeiras prevaleceu algo ainda mais
torpe que a guerra: o vale-tudo, a completa ausência de limites.
Na etapa final, sobramos. Admito que cornetei Baptista
por suas mexidas. Deslocar Scarpa, que sempre acusa cansaço no 2º tempo, para a
sacrificante posição de lateral, me preocupou. E achei a mexida ainda mais
preocupante quando me dei conta que ela visava encaixar Osvaldo pelo setor
esquerdo de ataque. Entrar com o costumeiramente desinteressado Gerson no lugar
de Marcos Júnior, também havia me parecido bola fora. Posteriormente, Vinicius,
em jornada apagada, daria lugar a mais um atacante: Magno Alves. No entanto, as
substituições, para minha surpresa e aprendizado, surtiram efeito. O Fluminense
botou a bola no chão, alugou o meio de campo, encaixou a marcação e viu o
Palmeiras ficar acuado, saindo à base de chutões.
Destaque especial para Gerson: como jogou! Marcou, roubou
bolas, arrancou, tabelou, assistiu Fred.
O Palmeiras por sua vez caía pelas tabelas. Robinho, e
depois Gabriel Jesus, ambos com câimbras, foram substituídos. O time que havia
se poupado no fim de semana estava incrivelmente mais desgastado que o nosso. E
só saía à base de chutões ou lançamentos longos. Aos 40 minutos do 2º tempo, o
alviverde paulista acumulava 52 bolas longas, entre rifadas de bola e
lançamentos, sendo 37 delas erradas. Uma pobreza de repertório.
Até que nosso gol saiu. E premiou a perseverança de Fred.
Há uma patrulha para que se elogie Fred com comedimento. Há quem faça questão
de lembrar do seu vultoso salário para tirar o peso de sua importância e
entrega.
A estes, com todo o respeito, peço para que se danem, e
recebem latas de cerveja imaginárias na sua arrogância.
Futebol não é um cálculo frio de custo e benefício.
Jogadores não estão aí para serem avaliados como produtos expostos em uma
prateleira.
Pela condição física precária que exibia, sentindo o
joelho a cada impulsão para cabecear, arrastando-se em campo, Fred justificaria
sua substituição no intervalo se fosse um jogador normal. Repito: se fosse um jogador
normal.
O gol foi a recompensa pelo treino solitário de domingo. De
um cara que calça chuteira preta e não exibe cortezinhos de cabelo escrotos. De
um cara que vê o futebol como sua vida e não mero meio de vida. Que curte ser
ídolo, e mais do que isso, escolheu ser ídolo do Fluminense.
Eu não leio mentes, mas arrisco dizer que quando Fred
chorou na comemoração do seu gol, havia ali mais do que o choro de uma superação.
Era o choro de um tricolor. De quem tem a noção que para o Fluminense tudo é
mais difícil e sofrido.
Mais do que isso: o choro de quem possui a exata noção de
que pelo Fluminense nenhum sacrifício é em vão.
Nossas lágrimas ontem não foram em vão.
Havia previsto em meu texto anterior que qualquer que
fosse o desfecho deste confronto morreríamos de orgulho do Fluminense. Mas cabe
aqui uma correção: vivemos de orgulho pelo Fluminense.
O ano, no entanto, não terminou. Precisamos ainda de duas
vitórias no Brasileirão para não ficarmos reféns de contas. Precisamos ter
força mental para virar a página e abraçar a equipe nesta reta final de
temporada.
2015 terminará sem títulos. E exigirá uma reflexão de
todos nós, sobre os muitos erros cometidos, os acertos que precisam ser
mantidos, e os desafios de um 2016 em que não contaremos com Maracanã e
Engenhão por vários meses. 2016 também
será ano de eleição. Que em nome do poder não se pratique uma luta fratricida e
lesiva à nossa instituição.
Já temos inimigos externos demais. Por amor ao
Fluminense, tenhamos toda a serenidade e senso de justiça possível. O
Fluminense é eterno, mas sofre quando no front interno é tratado com desamor e mesquinhez.
Seja você da situação, da oposição, ou um tricolor sem engajamento político,
trate o Fluminense com carinho.
Afinal, pela nossa paixão, estamos todos no mesmo barco.
Quando saiu o gol do Fred, todos vibramos com a mesma explosão de sentimentos.
Éramos todos incrivelmente iguais. Iguaizinhos.
Viva o Fluminense!
Tiro Livre:
-
Gum é merecedor de nossa gratidão e carinho pelos títulos brasileiros
de 2010 e 2012. Pelo caráter e profissionalismo. Mas que essa gratidão
não seja confundida com escalação garantida. Sua péssima fase é prolongada e tem atrapalhado o time. Para que não corramos mais o risco de perder competitividade com sua presença em campo, faz-se urgente negociá-lo.
- Marlon fez sua pior partida com a camisa do Fluminense ontem. Sem tempo de bola, bobeada no rebote do pênalti desperdiçado por Zé Roberto, etc. Mas tem muita margem para evoluir, desde que não perca a humildade.
- Só eu achei muito estranho o Eduardo Baptista não ter colocado o time para treinar pênaltis na véspera do jogo? Está o mundo inteiro errado em manter esta prática e nosso treinador certo? E por que cargas d'água escalar Gum entre os 5 primeiros batedores de pênalti??
- Marlon fez sua pior partida com a camisa do Fluminense ontem. Sem tempo de bola, bobeada no rebote do pênalti desperdiçado por Zé Roberto, etc. Mas tem muita margem para evoluir, desde que não perca a humildade.
- Só eu achei muito estranho o Eduardo Baptista não ter colocado o time para treinar pênaltis na véspera do jogo? Está o mundo inteiro errado em manter esta prática e nosso treinador certo? E por que cargas d'água escalar Gum entre os 5 primeiros batedores de pênalti??
- O gol perdido por Fred nos acréscimos ficará rodando em nossas cabeças por dias e dias a fio. Na cabeça do Fred ficará rodando mais tempo ainda. Mas com certeza, em uma realidade paralela, essa bola entrou. E nós a habitamos.
Por Bruno Leonardo
Impecavel! Não mudo uma vírgula, um ponto...!
ResponderExcluirParabens!
Fala, Brunão. O Eduardo Baptista não treinou pênaltis na véspera, mas é corriqueiro o treinamento de penais em suas atividades. Em off, ele disse para imaginar um aluno estudando para o vestibular: passou ou ano todo lendo e escrevendo e, se deixar de estudar na véspera, não fará diferença.
ResponderExcluirQuanto a tragédia, eu ainda penso em escrever algo sobre, acompanhando o relato de todos os blogueiros que admiro, incluindo você.
O Fluminense demonstrou a essência que nos fez apelidá-lo de Time de Guerreiros. Mais uma vez, foi muito pior para os fatos a desclassificação da equipe verde, branca e grená.
Parabéns pelo texto, amigo.
ST
Paulo Brito