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Peter e Siemsen e Mário Bittencourt recebem na sala de troféus Ilídio Lico, ex-presidente da Lusa (Foto: Leonardo Barros – Extra) |
Eu achei que
havia tomado um vinho um pouco forte e barato, desses que são vendidos em
garrafões de 5 litros no supermercado, e tido uma espécie delirium tremens ou
um estado onírico qualquer provocado pela ingestão de álcool.
Eis que ligo
a tv e me deparo com uma pavorosa figura, semelhante a um Homem-de-Neandertal,
discursando na escadaria que conduz ao salão nobre das Laranjeiras, ladeado
pelo presidente do Fluminense, Peter Siemsen, e pelo vice de futebol, Mário
Bittencourt. Foram raros os porres que tomei na vida, e em nenhum deles vivi o
desconforto de visualizar uma criatura tão horripilante. Corri à minha geladeira (não bebo o suficiente para justificar a compra de uma adega) e
constatei que não havia consumido vinho nenhum. Era tudo verdade.
Ainda
considerando a hipótese de estar sob forte torpor, fui capaz de reconhecer o ignóbil
personagem: tratava-se de Ilídio Lico, ex-presidente da Portuguesa, que
entrevista ao jornalista Jorge Nicola acusou a Unimed, com anuência do Fluminense, de ter comprado a escalação do jogador Héverton para evitar o descenso do Tricolor, ainda na gestão de seu antecessor,
Manuel da Lupa.
Não sei
quanto a vocês, mas considero a sede das Laranjeiras a minha primeira casa. A
segunda é onde costumo dormir, ter refeições e tomar banho. Em geral não recebo
inimigos na minha casa. Não abro as portas do meu cafofo para quem ataca a
minha honra e me acusa de corruptor. Eis uma ofensa tão grave, e no caso
específico do Fluminense, tão diretamente associada aos milhões de corações que
amam este clube, que a simples hipótese de receber este pária no meu domicílio
me embrulha as vísceras. Pessoas da estirpe de Lico a gente só recebe nas
barras do tribunais.
O Fluminense
estabeleceu com este episódio uma lamentável inversão de valores. Enquanto
funcionários são orientados a barrar a entrada de torcedores não-sócios, alguns
dos quais oriundos de pontos distantes do Brasil e capazes de enfrentar longas
viagens para conhecer nossa sede, dirigentes franqueiam o acesso de detratores
da instituição às suas dependências, dando-lhe holofote, microfone e tapete
vermelho.
Mas voltando
ao tema da defesa institucional, acho que é ponto pacífico que o maior anseio
da torcida tricolor é que estes ataques à imagem do Fluminense cessem. Em um
curto período de tempo tivemos uma piada infeliz do deputado Paulo Pimenta, o
comentário malcheiroso do Peninha, uma charge da revista Isto é comparando as
manobras regimentais do deputado Eduardo Cunha às supostas viradas de mesa do
Fluminense e as acusações do Ilídio Lico.
Para que
estes ataques cessem, existem basicamente dois intrumentos: a defesa
institucional através da mídia, rebatendo com veemência os comentários maldosos,
e o processo judicial. Tanto o processo judicial é uma ferramenta eficaz que,
temendo perder a causa e se ver obrigado a pagar indenização pesada, Ilídio
Lico preferiu acorrer à nossa sede para se desculpar, ainda que de forma tosca,
atribuindo a uma taça de vinhos o poder de inspirar fábulas conspiratórias.
Parto do
princípio que o Fluminense só reverterá esse jogo quando for capaz de incutir
na banda podre da mídia ou da cartolagem nacional o medo de achincalhar nossa
instituição. E para tanto, não deveria ter se prestado ao ridículo de receber
um acusador e retirado o processo. Creio que mais eficaz seria fazer o
ex-mandatário da Lusa sentir em toda a plenitude a corrosão financeira que o
processo lhe causaria. Se era isso que ele temia, era justamente isso que ele
deveria enfrentar.
Ou alguém vê
no gesto do lobisomem-cartola uma ato edificante de nobreza e humildade? Teria ele
se dirigido às Laranjeiras espontaneamente para se desculpar sem um processo
pesando sobre sua cabeça como uma espada afiada? Não. Provavelmente estaria
fornecendo ao Jorge Nicola novas entrevistas atirando lama em nossa honra. E
ajudando a manter o olhar da opinião pública bem longe de um certo clube da
Gávea.
Para esquecer
essa patuscada patrocinada pela nossa alta cartolagem, vou abrir um vinho. Um cabernet
sauvignon safra 1984, com aroma de título e açúcar residual de bom futebol.
Por Bruno Leonardo
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