Ufa! Mais uma partida do Fluminense em que o momento mais
aguardado foi o apito final. Vitória magrinha, obtida com um gol chorado e aquela misto de alívio e apreensão nos minutos finais, com o receio de ver a zaga entregar a paçoca a qualquer momento.
O Fluminense passou sufoco contra o Resende por erros de
concepção e escalação do nosso treinador. Comecemos falando da zaga. Por força das circunstâncias, Cristóvão vem
escalando uma zaga reserva que é lenta, e nesse ponto reside uma das maiores
provas de que nosso treineiro não elabora o esquema de acordo com as peças que possui. Ele tenta
fazer com que as peças se ajustem a um estilo de jogo do qual não abre mão.
Se você tem zagueiros lentos, precisa jogar com sobra. Jogar
com zagueiros lentos e em linha, é pedir pra levar bola nas costas ou no espaço
entre os dois. E aí danou-se, porque nem Henrique nem Victor Oliveira possuem
poder de recuperação. Eles sempre vão ficar pra trás na corrida com os
atacantes velozes. Se colocar João Filipe acontece a mesma coisa. Percebem
também o erro na montagem do elenco? Você tem um treinador que gosta de zaga
adiantada e contrata zagueiros lentos. O problema começa antes do técnico.
Agora repare: você tem zagueiros lentos, que jogam adiantado
e em linha. Errar na saída de bola dentro de um contexto desses é dar meio gol
para o adversário. Foi assim no lance do segundo gol do Volta Redonda há duas
rodadas, em erro de passe do Jean. Também foi assim no gol (bem anulado)
do Resende no jogo de ontem. Em passe errado de Henrique visando Gerson, a bola é interceptada pelo meio de campo do Resende e aberta rapidamente na direita para Geovane Maranhão, que cruza rasteiro para a conclusão de Jhuliam. Erro que poderia ter custado caro, não fosse a boa intervenção do auxiliar. E enquanto Henrique acreditar que é o zagueiro técnico que na realidade não é, veremos mais passes errados e lançamentos longos, pretensiosos, que não darão em nada.
Cristóvão comete uma combinação terrível: adota um 4-2-3-1 inflexível
e ainda escolhe as peças erradas para fazer o esquema andar. Insistiu com o
canhoto Kenedy na direita mais uma vez e todas as vezes que ele precisou ir à
linha de fundo pra cruzar, cruzou mal, com o pé ruim. Quando Marlone é escalado, vive
o mesmo dilema e também joga torto. O meia-atacante entrou no 2º tempo no lugar de Wagner, que sentiu a falta de sequência de jogos e caiu de produção na etapa final. A substituição, no entanto, pouco surtiu efeito. Essa insistência com atacantes jogando em
lados trocados é outra assinatura de Cristóvão que não vinga e na qual o
treinador insiste. Cristóvão é, à beira do campo, o que Henrique é dentro dele: alguém que se complica sozinho por evitar o simples.
O retorno de Wagner tende a corrigir a inoperância ofensiva que se observava pela esquerda. Repararam como Giovanni se sentiu mais à vontade contra o Resende para ir ao ataque com a presença de Wagner e como a parceria entre os dois fluiu em alguns momentos
do 1º tempo? Acho que pelo lado direito a parceria que mais tende a dar certo é
entre Wellington Silva e Lucas Gomes. Em alguns momentos da partida contra o
Bangu no Maracanã vimos um projetar o outro à linha de fundo com sucesso.
A boa notícia ficou por conta da boa atuação de Gerson. Se
não foi brilhante do ponto de vista técnico, ao menos vimos um jogador seguro,
jogando de cabeça erguida e qualificando a saída de bola. Gostaria de vê-lo
centralizado e armando o jogo no lugar de Vinicius, que a rigor só registrou um
chute na trave e no mais foi um jogador inconstante, no melhor estilo vaga-lume. A falta de criação faixa central do campo
reforça a tendência do time de jogar pelos lados e buscar o apoio dos laterais
para tentar o velho chuveirinho na área buscando a cabeçada de Fred. Com isso, nosso jogo
fica extremamente previsível, fácil de ler e anular. O gol da vitória saiu
justamente quando Fred abdicou de fixar residência na grande área e resolveu mostrar
seus dotes de pivô. Muitos exaltaram Walter pelo chute cruzado que serviu de passe para
o gol de Wellington Silva, mas tudo começou com o passe de Fred abrindo na
direita para o gordinho.
No frigir dos ovos, contabilizamos 5 vitórias e 2 derrotas e
estamos vivos na briga, dentro da zona de classificação. Para a partida contra
o Botafogo muito precisará ser feito, sobretudo na defesa. O Botafogo tem um
time feio, modesto, mas sua virtude está justamente em se reconhecer limitado e
jogar de acordo. Renê Simões arma seu time a partir de uma defesa bem postada e
trata antes de tudo de tomar poucos gols. O Fluminense de Cristóvão tem a
ambição de propor o jogo sem estofo defensivo pra suportar os contra-ataques. Pelo incrível que pareça, o Botafogo leva ligeiro favoritismo por se conhecer melhor do que o Fluminense.
TIRO LIVRE:
- As críticas ao trabalho de Cristóvão são justíssimas, mas
vejo uma tendência de culpá-lo por tudo, o que pode nos induzir a pensar que
temos um bom elenco que é mal aproveitado, e nosso elenco é apenas mediano. Esse
discurso é ótimo para jogadores que desejem atribuir suas más atuações ao
técnico e não à própria ruindade.
- A torcida clama por Walter, o gordo entra e participa do
gol, e com isso ajuda a justificar sua permanência nas Laranjeiras. Não custa
muito e daqui a pouco ele começa uma partida como titular e não joga nada. Conheço esse filme.
Walter só será um grande jogador quando tiver físico de atleta. Sem isso, será
sempre um genial peladeiro de jogadas ocasionais.
- Precisaremos nos reforçar para o brasileiro. Um dos
problemas de manter o Cristóvão é confiar no seu bom gosto para indicar
jogadores. Fabrício já foi um cartão de visitas. Se a dispensa de Wellington
Carvalho e Elivélton para as chegadas de João Filipe e Victor Oliveira também têm
sua assinatura, é de se temer o que vem por aí.
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