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Ricardo Drubscky comanda seu primeiro treino no Fluminense (Foto: Nelson Perez/ Divulgação FFC) |
Ricardo Drubscky já chegou ao Fluminense fortemente questionado
e em meio a protestos. Sua entrevista coletiva foi antecedida pela invasão de torcedores à sala da vice-presidência de futebol. Chegou, portanto, em
meio a um fogo cruzado que não é dele, assim como Cristóvão já chegou
precisando aparar as arestas entre Celso Barros e Peter Siemsen.
É preciso coragem para assumir o Fluminense nessas
circunstâncias. Quando a bola rolar, poucos vão querer pesar o contexto em que
o treinador assumiu o comando do time. O ambiente conturbado, o orçamento
apertado, as condições precárias de treino, o elenco carente de opções. Tudo
isso será relegado a segundo plano. Se o time vencer terá sido apesar do seu
currículo e graças a alguns jogadores. Se perder, a culpa será apenas sua e de
seu currículo inexpressivo.
No fundo, Drubscky sabe que o que define o teor dos
comentários são os resultados. Se o novo treinador se consagrar no Fluminense
dirão que faltava em sua trajetória a grande oportunidade, como foi o Cruzeiro para o rodado Marcelo Oliveira. Se fracassar, dirão
que tudo não passou de um fiasco anunciado. Se fizer experiências malsucedidas
no elenco será taxado de Professor Pardal. Se as experiências forem bem-sucedidas, dirão, por exemplo, que ele sai da mesmice e não troca seis por meia dúzia ao
substituir.
A essa altura o leitor já deve estar familiarizado com a
informação de que Drubscky conquistou apenas uma série D e um campeonato
paraibano. Fazem pouco caso disso como se ele tivesse disputado a série D com
um time de série A e não em condições semelhantes de precariedade com os outros
times da série D. Como se inexistisse nisso algum mérito.
Um dado que tem sido omitido é que ele já foi coordenador de
divisões de base e conquistou duas vezes a Copa SP de Juniores ( em 1994 com o CAP e 1996 com o América-MG). Em
um clube onde Drubscky terá justamente a missão de completar a formação de
jovens promissores como Gerson, Robert, Kenedy e Marlon, há quem possa achar
que esses dados não signifiquem nada.
Já vasculhamos seu currículo, contamos em quantos clubes ele
trabalhou, quantos títulos conquistou e nos certificamos até da sua taxa de
aproveitamento (61% no estadual; 64,5% no total) no último clube (Vitória). Que
aliás, assim como o Fluminense, vive momento conturbado e assistiu à renúncia
do seu presidente. O mesmo que conduziu o clube ao rebaixamento ano passado. Por falar no rubro-negro baiano, Drubscky
classificou o time para as quartas de final do estadual e o deixou na liderança
de seu grupo na Copa Nordeste. Foi demitido porque em pouco mais de 3 meses “não
conseguiu dar padrão de jogo à equipe”. No rastro da sua demissão, o interino
venceu o jogo de ida contra o Colo Colo (nome curioso) no baianão por 2x1. Em
seguida, Claudinei Oliveira foi
contratado e no jogo de volta, em casa, o Vitória foi eliminado do estadual com
uma derrota por 2x0.
Ah, o imediatismo, o destempero, o faniquito.....
O Vitória não demitiu o Guardiola, é verdade. Tampouco o
Fluminense acabou de contratar um completo inútil.
Currículo, títulos, estatísticas,
projeções. Diante do exame objetivo de quem acabamos de contratar, só existe
um prognóstico possível: esse cara não vai durar. Nem três meses, quiçá nem
dois.
Objetividade. Esta senhora que é capaz de dominar o
pensamento e moldar os prognósticos até o ponto da servidão total. É disto que
tratava o Profeta quando cunhou a expressão “idiotas da objetividade”.
Expressão que em determinadas circunstâncias estabelece parentesco com a “unanimidade
burra”.
Que não se sintam ofendidos aqueles que se encontram
pessimistas com Ricardo Drubscky. Não estou chamando a ninguém propriamente de
idiota ou de burro, em que pese nossa liberdade para assim chamar treinadores
demissionários.
Apenas desejo humildemente advertir que o pessimismo que
deriva do exame objetivo dos fatos pode causar uma espécie de prostração: supostamente,
não há mais nada a se fazer. A não ser lamentar, revoltar-se, chorar de raiva
ou resignar-se. Estamos impreterivelmente condenados ao mais previsível e
inevitável dos fracassos.
Sobre o já anunciado fiasco de Ricardo Drubscky no
Fluminense existem nuvens cinzentas carregas da fatídica frase “eu avisei”,
prontas pra fazer chover. Há aqueles que são mais apaixonados por suas teses do
que pelo Fluminense. Esperam ansiosamente pela derrocada do novo treinador para
que, emplumados de suposta razão e sabedoria, possam pontificar: “não foi por
falta de aviso”.
Alguns, talvez teleguiados por interesses obscuros, precisam
invadir salas e dizer “eu avisei” de dedo em riste. A estes nunca ocorre a
possibilidade do diálogo. A escolha prioritária é sempre pela intimidação. São
loucos a ponto de acreditar piamente na eficácia do “método” e a ponto de
acreditar que representam vasto contigente da torcida. Acreditam falar em nome
dela e justamente por essa crença se revestem de suposta autoridade para
estabelecer uma conversa forçada. Espero que este não seja o modus operandi destes torcedores se um dia fizerem parte da gestão do clube.
Em um momento no qual
o novo treinador não tem nenhuma partida oficial disputada pelo
Fluminense, o pessimismo e o otimismo são apenas escolhas, não fatos. Apenas
lamento a opção pelo pessimismo porque este sentimento tem o dom de se
transformar numa autoprofecia (assim como o seu oposto). A torcida está convicta que o novo treinador vai
fracassar => não vai ao estádio e não gera renda ao clube => time joga
com casa vazia e menos motivado => resultados ruins antes previstos, passam
a ser realidade. Não estou sendo simplista de jogar nas costas da torcida toda a
responsabilidade pelos resultados. Mas é fato que ele exerce sobre eles alguma influência.
Se assim não fosse, não enxergaríamos utilidade em lotar o Maracanã e
incentivar o time. A redenção de 2009 teria, portanto, acontecido de qualquer
jeito, com ou sem nosso apoio maciço.
Com um estadual em que somos assaltados à luz do dia e o
presidente da entidade que organiza a várzea se posicionando como nosso inimigo,
vejo mais sentido em direcionar as nossas expectativas para a Copa do Brasil e
o campeonato brasileiro. Por que não se permitir a loucura de entupir o
Maracanã de gente na estreia do Flu nas duas competições? Por que não provar
aos profetas do apocalipse que somos a torcida do impossível?
Quer dizer então que no momento que o Fluminense se encontra
fragilizado pela perda do seu antigo patrocinador e pela perseguição covarde da
FERJ tudo o que temos a oferecer como torcida é um mar de negativismo e uma
rotina de arquibancadas vazias? Que continuemos cobrando (e muito) de nossos
dirigentes, que cometeram o equívoco de ter renovado com Cristóvão. Mas que não
confundamos cobrança com abandono.
O abandono nada resolve e ainda produz novos problemas.
Por Bruno Leonardo
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