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Festa tricolor no Maracanã com sinalizadores (Foto: Acervo O Globo) |
Para quem espera
A vida sempre será
Um incêndio no coração
Sob o temporal que tudo arrasa
Zeca
Baleiro
O torcedor tricolor está com muita coisa entalada na garganta.
Em 2013, assistiu impotente ao ataque covarde da imprensa contra
nossa instituição, amparada pelas regras, mas não pela hipocrisia humana. A
mesma hipocrisia que é capaz de dissociar ética do cumprimento de regras. Não
dispôs sequer de uma defesa assertiva e combativa dos seus representantes.
Sentimento de orfandade.
Em 2014, ainda vivendo os últimos suspiros da parceria entre o
clube e a Unimed, testemunhou a subutilização de um elenco recheado de bons
valores técnicos que, se submetidos ao comando de um treinador mais qualificado
e um ambiente de trabalho mais estável, reuniria plenas condições de obter uma
vaga na Libertadores. Como golpe complementar, viu o solo rachar embaixo de
seus pés com a debandada do patrocinador. Incertezas.
Em 2015, viu o “padrão de vida” cair consideravelmente com a
chegada de nomes estranhos e um futebol mais estranho ainda. Não bastasse a
aflição resultante de torcer para um plantel parcialmente incondizente com as
tradições tricolores, ainda precisou desviar de rasteiras e armadilhas
aplicadas com destreza por uma federação Dick Vigarista. Foi por pouco. Mesmo
sem Fred, estivemos a uma disputa por pênaltis das finais. Ficou a certeza da
perseguição sórdida, mas ficou também a certeza que nem ela seria suficiente
para nos derrubar se tivéssemos uma equipe mais qualificada.
Muita discussão sobre scouts (ou a falta dos mesmos), erros de
planejamento (ou a falta do mesmo), influência excessiva de empresários, a
falta de um mapeamento mais competente das oportunidades de baixo custo do
mercado da bola, etc. Em diferentes sites e blogs tricolores tal discussão foi
empreendida de forma minuciosa, competente.
No entanto, o saldo desse exame racional dos fatos, naturalmente,
é o pessimismo.
Zaga que não inspira confiança. Lateral que era a última opção no
Cruzeiro. Volante que estava encostado no Atlético-MG. Zagueiro, velho
conhecido nosso, há meses sem jogar no São Paulo. Tá na cara que se não
cairmos dessa vez será lucro. Saco cheio desses caras que tentam tapar o sol
com a peneira. Só podem ser paus mandados da diretoria. Devem ter prometido
algo a eles. Reforços? Se depender dos scouts do Simone, vem mais bomba por aí.
E essa camisa verde que parece uma imitação do Palmeiras com o nosso escudo? Eu
que não compro. Entrar de sócio? Pra dar dinheiro a esses caras, que não sabem
gerir um clube? Tô fora. Ir ao Maracanã, pra me esgoelar com esse time sem
sangue? Sem chance.
Vai dizer que em algum momento o leitor não se deparou com frases
semelhantes, seja na roda de conversa do bar, do trabalho ou do mundo virtual.
Ou ainda mesmo dentro de si.
Precisamos de um fato novo. Sem ele, é o ciclo vicioso de cultivar
desesperança, ficar em casa, dar murro na mesa com os maus resultados, correr
para as redes sociais em busca de alguém que verbalize e endosse a minha raiva,
e trocar farpas com as bestas que insistem, tais quais Polyanas, em cultivar
algum otimismo. Um fato novo. É o que merecemos nos dar após a exaustão causada
pelas frustrações acumuladas desde o fim de 2012.
A razão já esgotou seus argumentos, enfileirou críticas
pertinentes, mas desmobilizadoras. O que fazer com elas, se não transformá-las
em cabedal de explicações para futuras derrotas?
Ah, mas tem a esperança....ela se afasta e volta, feito maré, sob
a forma de um verso que teima em zumbir no ouvido falando de um tal verde, que
simboliza esse sentimento tão maroto, tão aparentemente demagogo.
O coração tricolor espera. E a conjugação do verbo esperar aqui
nada tem a ver com a postura passiva de quem aguarda, inerte, a vida melhorar.
Esperar é nutrir esperança. Agir acreditando que a ação produzirá o efeito
almejado.
Um incêndio no coração. Ou um incêndio simultâneo em dezenas de
milhares de corações tricolores. Quarenta, cinquenta mil, sessenta mil,
todos de encontro marcado no Maracanã, dia 9 de maio, em nossa estreia no
campeonato brasileiro. Incendiando o time, carbonizando as incertezas. Coração
que não queima, congela, necrosa, procura amparo na lógica, mas esta não está a
nosso favor. Pouco vai adiantar esmiuçar os números, nossas contratações, as táticas e
elencos adversários. Encontraremos explicações, prognósticos, mas não alento.
Somente a loucura nos salvará, porque a razão já nos desenganou.
Que seja insuportável para
cada tricolor estar fora do Maracanã no próximo dia 9. Que seja insuportável
para o Joinville estar dentro.
Por Bruno Leonardo
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