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Gum procura consolar Cavalieri após eliminação (Foto: Gazeta Press) |
O
Fluminense fez mistério sobre a escalação durante toda a semana, em meio às
incertezas sobre a presença de Fred na partida. Drubscky acabou optando por uma
formação que treinou pouquíssimos minutos. Cometeu erro crasso ao escalar um
Wagner ainda às voltas com dedos paralisados no pé direito e ao improvisar
Vinicius como falso 9 no início no jogo. Além disso, Giovanni fez 1º tempo
pavoroso, para o qual muito contribuiu a omissão defensiva de Wagner, deixando
o lateral esquerdo tricolor no mano a mano com seus adversários frequentemente.
Assistimos a mais uma exibição preocupante de Gum, na sua luta particular para
voltar a ser o zagueiro competitivo que era antes de quebrar a perna.
Também
cabe registrar que temos 2 laterais esquerdos reservas que não têm sido sequer
relacionados para o jogo. Quando precisou sacar Giovanni, mais perdido que
amendoim em boca de banguela, Drubscky improvisou Wellington Silva na esquerda,
para acomodar Renato na direita. Reflexos de um pacotão mal montado no qual,
com boa vontade, pode-se dizer que podemos aproveitar 3 de 7 jogadores.
O Fluminense
mais acertado do 2º tempo tirou proveito de um Botafogo que ia progressivamente
morrendo em campo, incapaz de concatenar um contra-ataque. Em dado momento, o
jogo ficou se parecendo com aquelas lutas de boxe em que um lutador leva o
outro às cordas, castiga gradativamente o adversário, mas não dispõe de um soco
duro o suficiente para levá-lo a nocaute. Em outras palavras, faltou
competência para que o Fluminense transformasse seu domínio territorial em
gols. O Botafogo se defendeu como pôde e
foi para a disputa de pênaltis com o olho roxo, mas de pé.
Na
agonia dos pênaltis, o toque de crueldade ficou por conta da defesa parcial de
Cavalieri na fase de cobranças alternadas, que fez a bola morrer mansamente em
nossa rede. A classificação escapou de nosso dedos como miragem do deserto. De
quase herói, nosso arqueiro foi alçado à condição de quase vilão, ao bater
bisonhamente a sua cobrança de pênalti. Não era mesmo dia. O Fluminense foi
eliminado por seus erros, mas não por uma suposta competência do Botafogo. Para
se classificar, o alvinegro precisou ser favorecido com um gol irregular, duas
bolas de Gum na trave e uma dose grande de sorte ao converter por um triz um
pênalti mal batido.
O
Botafogo chega à sua 8ª final de
estadual nas últimas dez edições. Neste mesmo período o melhor que conseguiu em
âmbito nacional foi um quarto lugar no brasileirão de 2013, que lhe valeu uma
vaga na Libertadores. No mais, cansou de fazer figuração, até ser rebaixado ano
passado. O Fluminense, de 2006 pra cá, fez caminho oposto. Mesmo turbinado pelo
patrocínio da Unimed, tropeçou inúmeras vezes no estadual, tendo chegado a
apenas uma final (2012), na qual se sagrou campeão. Entretanto, conquistou uma
Copa do Brasil, dois campeonatos brasileiros e chegou a uma final de
Libertadores.
Erros acumulados nos últimos anos de planejamento e de montagem do elenco à parte, o estadual tem sido há muito tempo um ecossistema hostil para o Tricolor. Ao Fluminense tem cabido o ônus de ganhar sempre com sobras, enquanto outros são agraciados com pênaltis fajutos no fim da partida, linhas de gol que fazem curva para a bola entrar (ou para não entrar, dependendo do time), etc. Como não somos agraciados com tais benesses, nos resta ouvir pérolas do cinismo como “o choro é livre” ou “reclamem menos e joguem mais”. E tome gol anulado, e tome o Fred sendo julgado muito antes dos brigões de Flamengo x Vasco da Taça GB, estádio em obras liberado para jogo sem apresentação de laudo, entre outras sacanagens.
Faltou-nos
melhor futebol, é pura verdade, mas quem foi que disse que é preciso jogar um
bom futebol para ganhar o Carioca? O Flamengo, amplamente dominado pelo Vasco
na final do ano passado, não precisou jogar bem para levantar o caneco. Bastou
um gol em impedimento cristalino no fim do jogo. O Botafogo, com gol irregular,
e agraciado pela ausência de Fred, passou à final este ano, mas passou o 2º
tempo todo pedindo para ser eliminado. Não ficarei espantado que fora desse manto
protetor da FERJ, o Flamengo continue sua saga para sair da “confujão” na série
A e o Botafogo não encontre o caminho do G4 na série B.
Quando
Fred colocou na pauta de discussões a célebre frase “aí fica tudo em casa”,
demonstrou ter entendido que a federação do Rio é um ambiente de compensações
para clubes que não tem conseguido lugar de protagonismo em nível nacional. É preciso
salvar o Vasco do ostracismo, alçando-o a uma artificial polarização com o
Flamengo, e fazer o Botafogo orbitar em volta, satisfazendo-se com migalhas.
Resta isolar o Fluminense, que tomou pra si o papel de questionador desse
teatro de cartas marcadas, e tem encontrado mais sucesso fora do ambiente
doméstico do que dentro.
Agora teremos
3 semanas até a estreia no brasileirão. Hora de definir o futuro de Kenedy e
Gerson, encontrar um espaço para Pierre no time e ir atrás de reforços. Magno
Alves pode aparecer em breve. Ainda assim precisaremos de pelo menos um
zagueiro, um lateral esquerdo e um meia de criação. Até aqui Ricardo Drubscky
tentou salvar nossa campanha no Carioca e para isso evitou fazer mudanças
drásticas no legado tático deixado por Cristóvão, temendo possivelmente uma
completa desfiguração do time. Chegou a hora de imprimir suas próprias digitais
na equipe. Ou isso, ou será fritado por clube e torcida no processo.
Por enquanto estou dispensando profecias apocalípticas para o campeonato brasileiro. Todo ano é aquela ladainha; "esse ano a gente cai". É uma tara esquisita, a de tentar cravar o rebaixamento do próprio clube. Não temos um grande time, mas a grama do vizinho não se torna mais verde por causa disso. O atual campeão brasileiro está tendo dificuldades num dos grupos mais fáceis da Libertadores.
P.S.: Este será o local de competições das próximas Olimpíadas. Você imagina o COI liberando o acesso ao público nestas condições?
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Grade da arquibancada do setor leste superior enferrujada (Foto: Bruno Leonardo/ FluLink) Por Bruno Leonardo |
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