Quando
Eduardo Baptista assumiu o cargo de treinador do Fluminense, logo me pus a
imaginar a figura de uma esfinge guardando a entrada das Laranjeiras,
lançando-lhe o famoso desafio: “decifra-me ou te devoro”, à semelhança do
personagem mitológico Édipo, quando se defrontou com a monstruosa figura na
entrada da cidade de Tebas.
Em
contextos e gestões diferentes até nomes de prestígio no mercado como Cuca,
Muricy e Abel foram devorados pela esfinge da política tricolor. Todos saíram
ressentidos, se sentindo desprestigiados e vítimas de conjunturas políticas que
não conseguiram identificar com clareza. A permanência de um treinador no
Fluminense envolve a leitura de uma intricada trama que mescla vaidades da
cartolagem, controle de egos no vestiário, prêmios e salários atrasados,
promessas não cumpridas, elencos desequilibrados, etc.
Eduardo
não escolheu um clube qualquer para treinar, escolheu um gigante adoecido. Em
levantamento recente feito pelo jornal mexicano “El Economista” envolvendo as dez maiores ligas de
futebol do mundo, para saber quais os times que mais mudaram de técnico desde
2002, o Fluminense aparece encabeçando a lista. A prática é mantida pelo
atual comando de futebol, que já acumula o quarto treinador em menos de um ano.
Não
estivesse o Fluminense subordinado ao projeto pessoal de poder de Mário
Bittencourt, este já teria sido demitido, provavelmente da mesma forma covarde
e sumária com que já demitiu treinadores por ele mesmo escolhidos.
Poucos
gerentes de futebol no Brasil, em condições normais, sobreviveriam a 18
derrotas no campeonato brasileiro, quase um turno inteiro de derrotas. À
condição de lanterna do returno, com indigentes 10 pontos. A três trocas
infrutíferas de treinador. À contratação desastrosa de Ronaldinho Gaúcho.
Nenhum
gerente de futebol que se respeite permite que um jogador como Vinicius, com
contrato em vigência, se ausente de um jogo para negociar transferência para
outro clube. A anuência, até onde se sabe, não veio acompanhada de um desconto
em seu salário. É tudo muito mole e fácil.
O
Fluminense atual, digo com dor no coração, é uma zona. Uma máquina de
triturar gente.
Por
isso, louvo o esforço de alguns confrades da escrita no sentido de oferecer
sugestões de contratação de técnico ou jogador para a próxima temporada.
Certamente escolhas criteriosas hão de surtir algum resultado. Mas é questão de
tempo para que quaisquer avanços sejam boicotados por um ambiente de trabalho
montado para não funcionar.
Esta
mediocridade gerencial que assola as Laranjeiras pleiteia continuidade. E só
parece boa o suficiente para merecer seu voto por contraste, quando comparada à provável candidatura do jurássico Celso Barros. Não é a possibilidade de ver Celso
Barros, o mecenas falido, voltar ao poder que configura uma ameaça.
A
maior ameaça que enfrentamos é ficarmos sempre presos a polarizações políticas
de segunda categoria. Escolher entre o sujo e o mal lavado, entre o advogado
que se mete a gerente de futebol e um executivo que levou sua cooperativa a um
estado pré-falimentar, e que na primeira oportunidade vai reconduzir às
Laranjeiras um séquito de ressentidos, encabeçados por Renato Gaúcho, Sandrão e
Alcides Antunes, isso é que assusta.
O
argumento de que o investimento no futebol este ano está mais reduzido e que
passamos por um processo de transição já foi testado e não cola mais. Clubes
como Ponte Preta, Atlético-PR e Chapecoense, com orçamentos menores e
constantes trocas de técnico, fazem campanha melhor. Se considerarmos o returno
apenas, todos fazem campanhas melhores.
O
futebol brasileiro passa por uma crise técnica e financeira. Mesmo o
Corinthians, campeão brasileiro, não é um time recheado de craques. Assim como
o nosso adversário de ontem, o Grêmio, é um time que tem a marca do trabalho,
da repetição de jogadas, da jogada insistentemente lapidada. Na falta de
talento, compensa-se com eficiência.
O
Grêmio provavelmente nos venceria mesmo sem o pênalti marcado. É apenas um time
bem treinado e isso faz toda a diferença. Ganhou sem sobras do lanterna do
returno, o que faz parecer que a diferença para o Flu é ínfima e fica na conta
de erros de arbitragem ou do retardo mental do Gerson. Mas de vitória em
vitória por diferença mínima está inabalável no 3º lugar e irá para a
Libertadores. A diferença abissal não se estabelece no duelo direto em campo,
mas na constância e no foco dentro do campeonato. O Grêmio é 90% trabalho e 10%
talento. Eis uma fórmula na qual o Fluminense não acredita. No Fluminense não
se treina com afinco nem cobrança de faltas. Fomos capazes de passar um
campeonato inteiro sem arranjarmos um batedor. Nem Ronaldinho Gaúcho nos tirou
dessa condição.
Encerrado
o primeiro tempo do jogo, o tricolor genérico do sul acumulava 12 finalizações
contra apenas 5 nossas. Os gaúchos alternavam arremates na trave com conclusões
tortas sobre o gol, mas reparem: sem nunca diminuir o ritmo de jogo, sem jamais
abdicar de pressionar, marcar, confundir a marcação adversária com
movimentação. No time dos caras, até os volantes Wallace e Ramiro se projetam à
linha de fundo para cruzar. Douglas e Giuliano invertem posições. Luan sai da
área e se infiltra entra nossas duas linhas de 4 para armar jogadas, enquanto
Everton preenche a grande área. Tudo com pouco brilho técnico, mas muita
correria, intensidade, fé de que aquilo vai dar em alguma coisa. Se tivessem um
finalizador mais qualificado poderiam ter encerrado o jogo com um placar mais elástico.
Já
no Fluminense reinava a pasmaceira. Não se fazia pressão na saída de bola,
laterais ficavam presos à defesa e não subiam, Osvaldo sempre tentava mais um
drible e desperdiçava a oportunidade de um cruzamento. Passamos todo o 1º tempo
sem alternar posições entre Scarpa, Osvaldo e Marcos Júnior, tornando fácil o
encaixe defensivo do adversário. Éramos lentos na transição para o ataque e na
recomposição defensiva. E na impossibilidade de se contar com Vinicius, Eduardo
Baptista centralizou Scarpa, que não se encontrou nesta função. Na volta para o
2º tempo, Baptista tentou consertar, reconduzindo Scarpa à posição onde é mais
efetivo: aberto na meia esquerda. Para tanto, Osvaldo foi sacado. Quem
ocuparia, portanto, a faixa central?
Gerson.
Sem
saber, Baptista assinaria o próprio atestado de óbito do time na partida.
Em
18 minutos de jogo, Gerson desfilou um repertório de atitudes dementes. Aplicou
falta dura e sem necessidade para interromper contra-ataque de Luan, no meio de
campo. Não satisfeito, resolveu bloquear uma cobrança de escanteio com o braço
acintosamente aberto, lance pelo qual poderia ter sido expulso com o segundo
amarelo. Para dar um gran finale a seu recital de descompromisso, escolheu
novamente Luan como alvo e entrou de sola na canela do atacante gremista, numa
falta criminosa que lhe rendeu um cartão vermelho direto.
No
vestiário, Gerson receberia do seu treinador um cartão vermelho moral, sendo
chamado aos berros de irresponsável.
Justo
tratamento a quem retribui o Fluminense com atuações relapsas. Se está próximo
de realizar o seu sonho e o de seu pai de jogar na Europa, Gerson deve ao
Tricolor das Laranjeiras. Não precisa ser velho e vivido para saber praticar a
gratidão. Basta ter caráter. E isso independe de idade.
Depende
é de berço. E nesse quesito Gerson está muito mal servido.
Corremos,
nas projeções dos matemáticos, chances minúsculas de rebaixamento. Espero poder
comemorar uma vitória ante Inter ou Avaí e considerar o ano encerrado.
A
Mário e Simone, faço um apelo, sem qualquer cunho político: peçam demissão ao
fim do campeonato. Sem demora. Não é só pelos resultados. É pelo
desconhecimento do ofício. Ganha o clube e ganha Mário, cuja candidatura
ficaria dissociada dos resultados de campo. Sobraria mais tempo para brincarem
com um desses fantasy games da moda e simular uma extensão de contrato para o
Wellington Paulista. Ou chamar o Drubscky de volta.
Tiro
Livre:
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Onde está o presidente Peter? É conveniente botar a dupla dinâmica para levar
bordoada enquanto se finge de morto.
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Gum teve ótima atuação, daquelas que só confirmam que toda regra tem suas
exceções.
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Peritos constataram que a barragem das Laranjeiras pode romper a qualquer
momento pelo excesso de rejeitos que contratamos e não paramos de acumular.
Alecsandro pode ser o próximo. Estamos na iminência de uma tragédia ambiental
sem precedentes.
Por
Bruno Leonardo
Escrevo esse comentário às 01:48 da manhã de domingo e já me preparo para mais um resultado ruim, outra justificativa repugnante do "treinador", o Wellington Silva com aqueles ataques esquisofrênicos no jogo e fica tudo por isso mesmo por que até o torcedor do Fluminense curvou-se a escrotidão reinante.
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