Nesta quarta, o Fluminense fará sua estreia na Primeira Liga
(antiga Copa Sul-Minas-Rio), que é um torneio paralelo e totalmente organizado
pelos clubes que o disputam, sem a interferência de qualquer federação estadual
ou da CBF. A competição está gerando polêmicas, pois as federações locais,
principalmente a FERJ, lutam contra a sua realização, julgando-a ilegal, pois
os clubes teriam que, supostamente, ter uma permissão para cria-la. Se isso é
verdade ou não – e creio eu que não –, é irrelevante. Os clubes não podem, em
hipótese alguma, ser reféns de qualquer federação; eles são os protagonistas e são
livres para marcarem partidas com quem quiserem. Caso realmente haja um item no
regulamento da FERJ, CBF, FIFA ou quem seja que diga o contrário, os clubes
devem batalhar contra, garantirem sua liberdade e, se necessário, romperem com
estas, criando um novo modelo que respeite isto.
Lutar por mudanças no futebol não é algo novo na história do
Fluminense, que é um dos maiores responsáveis pela profissionalização do
futebol carioca. Na era amadora do futebol brasileiro, o “amadorismo marrom”
(jogadores amadores recebendo dinheiro pra jogar) se popularizou e os bons
jogadores que não usufruíam dessa fraude muitas vezes acabavam indo jogar na
Europa, onde poderiam ter o futebol como profissão e se dedicarem totalmente a
ele. Esse êxodo foi justamente o que abriu os olhos de alguns clubes, que
lutaram pela profissionalização do futebol carioca.
De um lado, sob liderança do Fluminense, um grupo com
América, Bangu, Bonsucesso e Vasco, além do próprio tricolor, fundou a Liga
Carioca de Futebol, que era profissional, e romperam com a amadora Associação
Metropolitana de Esportes Athleticos; do outro, Botafogo, Flamengo e São
Cristóvão eram contra a mudança e permaneceram na AMEA, disputando um
campeonato amador. O futebol carioca estava dividido, com dois campeonatos em andamento.
Posteriormente, o Flamengo trocou de lado e foi disputar o
campeonato da LCF, em que terminou em último – o Bangu se sagrou campeão, sendo
o Fluminense seu vice -, e o São Cristóvão também acabou disputando a sub-liga
da LCF, uma espécie de segunda divisão, em que foi campeão. Justamente por
causa do pé firme do grupo que lutava pelo profissionalismo, o objetivo foi
alcançado, embora não tenha sido instantâneo – a AMEA só foi extinta em 1935,
quando foi incorporada à Federação Metropolitana de Desportos e parou de
organizar campeonatos, deixando isto totalmente a cargo da LCF, e a adesão
unânime dos seus clubes ao
profissionalismo veio apenas em 1937.
Tabela final do campeonato carioca (organizado pela LCF) de 1933 |
Nem tudo são flores, porém; se o Fluminense pôde, nos anos seguintes, montar uma verdadeira seleção e dominou o futebol carioca entre 1936 e 1941 (cinco títulos em seis anos), também "perdemos" Preguinho. Um dos maiores ídolo do clube, o autor do primeiro gol da seleção brasileira em Copas do Mundo se recusou a receber qualquer dinheiro do tricolor para competir em qualquer esporte, largando, então, o futebol.
No meio deste imbróglio com CBF e FERJ e na luta pela criação de uma liga totalmente controlada pelos clubes, no mesmo modelo que é adotado na Inglaterra, é essencial que o Fluminense e os demais clubes que lutam por isto se mantenham firmes, sem medo das represálias. O que pode fazer a FERJ em um campeonato sem seus dois maiores campeões, ou, o que eu considero pior, ambos entrando em campo por mera obrigação, com times alternativos e não dando a mínima para a competição? O que pode fazer a CBF em um campeonato sem 12 clubes que deveriam, seguindo a última classificação, estar na série A? Eles podem até ocorrer, mas sem todo o prestígio que possuiriam com os clubes que de lá saíram, com públicos mais baixos que o normal – e olha que atualmente os públicos já são patéticos. Enquanto isso, a Liga, com seu muito provável sucesso, naturalmente atrairá outros clubes para si, tomando de vez o lugar do campeonato brasileiro. Algo semelhante ao que acontecia entre 1933 e 1937, com o Torneio Aberto, que contava com participação dos clubes profissionais e dos clubes amadores, visando atrair os que ainda não haviam aderido à mudança. Com a nova e mais igualitária divisão de cotas proposta pela Liga, as suas equipes ficariam mais fortes e os rivais, que não vão querer ficar pra trás, vão acabar cedendo, como fizeram na época Flamengo, São Cristóvão e Botafogo.
No meio deste imbróglio com CBF e FERJ e na luta pela criação de uma liga totalmente controlada pelos clubes, no mesmo modelo que é adotado na Inglaterra, é essencial que o Fluminense e os demais clubes que lutam por isto se mantenham firmes, sem medo das represálias. O que pode fazer a FERJ em um campeonato sem seus dois maiores campeões, ou, o que eu considero pior, ambos entrando em campo por mera obrigação, com times alternativos e não dando a mínima para a competição? O que pode fazer a CBF em um campeonato sem 12 clubes que deveriam, seguindo a última classificação, estar na série A? Eles podem até ocorrer, mas sem todo o prestígio que possuiriam com os clubes que de lá saíram, com públicos mais baixos que o normal – e olha que atualmente os públicos já são patéticos. Enquanto isso, a Liga, com seu muito provável sucesso, naturalmente atrairá outros clubes para si, tomando de vez o lugar do campeonato brasileiro. Algo semelhante ao que acontecia entre 1933 e 1937, com o Torneio Aberto, que contava com participação dos clubes profissionais e dos clubes amadores, visando atrair os que ainda não haviam aderido à mudança. Com a nova e mais igualitária divisão de cotas proposta pela Liga, as suas equipes ficariam mais fortes e os rivais, que não vão querer ficar pra trás, vão acabar cedendo, como fizeram na época Flamengo, São Cristóvão e Botafogo.
A história se repete e o Fluminense tem que se manter firme,
de acordo com o pioneirismo que há em seu DNA, sendo um dos responsáveis por
essas mudanças no futebol brasileiro, que têm tudo para serem positivas. Na
torcida para que o Fluminense, mais uma vez, seja Fluminense. Saudações
Tricolores!
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